A Igreja de São Sebastião no Montijo: Uma Joia de Séculos Passados

Esta segunda-feira tivemos com Maria José Fernandes, antiga paroquiana envolvida da capela: “(…)o portal de entrada, simples, com uma reta, está ladeado por duas pequenas janelas molduradas e gradeadas.” A empena angular é rematada por uma cornija e beiral, com um óculo quadrilobado acima dela, proporcionando um toque de elegância. No interior da igreja, encontramos uma única nave iluminada pelos vãos mencionados anteriormente. Conforme nos foi realçado, “o pé-direito é liso e desprovido de ornamentação, transmite uma sensação de simplicidade, característica de muitas igrejas antigas.” O acesso à capela-mor é feito por um arco triunfal pleno, apoiado por colunas torsas adornadas com detalhes geométricos. “A parede de fundo da capela apresenta uma abóbada de berço e um arco falso com arco pleno,” acrescentou Maria José. O pavimento é revestido de tijoleira, contribuindo para a atmosfera sóbria e acolhedora do interior.

Esta igreja possui uma história rica que remonta aos séculos XIV e XV, embora a data exata da sua construção permaneça conjetural. Durante o século XV, a igreja serviu como sede de freguesia após a autonomia paroquial. As comprovadas visitas dos Freires da Ordem de Santiago em 1512, 1525, 1534 e 1609 destacam a importância religiosa do local.

No século XVIII, a igreja passou por obras de remodelação. A leitura de uma Provisão de El-rei D. José, datada de fevereiro de 1754, revela que a “Câmara é padroeira de uma Igreja de S. Sebastião,” que “está de tal sorte danificada que por indecência do lugar [Câmara] se livrara do Santo e mais imagens para a Igreja Matriz.”, sendo mais um exemplo da centralização de figuras das igrejas do Concelho. Para proceder às obras de restauro, o “Presidente, vereadores e mais oficiais da Câmara, Nobreza e Povo de Villa de Aldegalega do Ribatejo” solicitaram ao rei que permitisse que os tributos aplicados na realização da corrida anual de touros fossem investidos, durante seis anos, nas obras da igreja, pois “a câmara não tinha rendas suficientes.”

Seis anos após a provisão real, a câmara solicitou ao rei que “fizesse mercê de prolongar a dita provisão por mais oito anos ou pelo tempo que fosse necessário para findar a obra.” O rei deferiu o pedido, concedendo, apenas, mais seis anos. Esta igreja torna-se então numa das mais fontes historiográficas da Alta Época Medieval e Moderna da cidade.

Em 1841, já em Época Contemporânea e nos prelúdios da Revolta da Maria da Fonte (a revolta em que populares todo o país se opunham aos enterros fúnebres fora dos recintos principais das Igrejas), a autarquia decidiu construir o cemitério adjacente à Ermida de S. Sebastião, “não só em razão da proximidade da vila e extramuros da mesma, mas ainda por ficar junto à dita Ermida, um objeto muito precioso num cemitério(…)”. Após as obras, o Santo e as imagens regressaram à Igreja, e a celebração anual da Festa de S. Sebastião foi retomada.

Ainda no século XIX, o livro da Descrição Geral dos Bens Próprios do Município de Aldegalega do Ribatejo descreve a igreja como: “Ermida de S. Sebastião — e casas anexas, com seu quintal, contígua ao cemitério público, com sua sacristia, uma pequena casa de entrada e dois quartos onde outrora era a roda dos Expostos.”

A Ermida de S. Sebastião, agora popularmente conhecida como a Capela do Cemitério, serviu como capela mortuária após o encerramento da Igreja do Senhor Jesus da Misericórdia e da Ermida de S. Sebastião, e antes da construção das novas capelas do cemitério.

Em 1981, foi assaltada e furtada de todo o seu património, incluindo a já mencionada e histórica imagem de S. Sebastião. Maria José recorda com angústia o trágico furto que ocorreu em 1981. Com um pesar visível no seu rosto, ela partilhou: “Foi um momento devastador para todos nós da comunidade. Aquela imagem de São Sebastião não era apenas uma estátua; era uma parte viva da nossa história, da nossa fé e da bênção de Deus à Aldeia Galega.”

Hoje esta capela encontra-se encerrada à exceção da realização de cerimónias fúnebres, quando escolhida pelas famílias. Lembremos que, à exceção da Igreja Matriz do Divino Espírito Santo, grande parte do património histórico-religioso do Montijo está vedado à população.

É já um lugar-comum dizer-se que é preciso conhecer para amar e que é necessário amar para conservar. No caso da Igreja de S. Sebastião e de todo o património histórico-religioso da região, é essencial que a comunidade tenha acesso e possa apreciar esses locais históricos, caso contrário as gentes passam a conhecê-lo como apenas mais uma capela mortuária, o que definitivamente não é o caso.

A história da Igreja de S. Sebastião é um exemplo notável de como a comunidade, a Igreja e as autoridades municipais, ao longo dos séculos, trabalharam juntas para preservar este tesouro arquitetónico e espiritual, mas que hoje em dia poucos conhecem a sua verdadeira história.

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