Bambil: “Esta loja continua a ser uma loja de boas saudades”

Quem não se recorda de ser criança e passar pela montra da loja Bambil e ficar apaixonado pelos peluches, bonecos e roupas que lá estavam? Sempre que passávamos por lá, em tenra idade, era impossível não ficarmos encantados.

Estivemos à conversa com Cristina Fuste, filha de D. Amália, que nos contou mais sobre a história da loja que está “desde 1959 a vestir menines à Múntije”.

Cistina cresceu a andar por detrás dos balcões da famosa Bambil, onde acompanhava a sua mãe. Nasceu na baixa do Montijo, frequentou as escolas da cidade até à Escola Secundária Jorge Peixinho. “A minha mãe, nascida e criada no Montijo, foi trabalhar para a Bambil com 16 anos, altura em que a loja abriu em 1959. Fez um pequeno intervalo quando nasci para tomar conta de mim, pois na altura não havia berçários. Nesse intervalo, para ajudar fazia malhas em casa, inclusive roupa de criança”.

A Bambil foi pioneira na venda de bens, como brinquedos e roupa, para crianças no Montijo.

Em 1971, com a proprietária da altura, D. Carolina. D. Amália em pé e Cristina sentada no chão

Já são 61 anos de muitas histórias, muitos baixos e altos, “a dona da loja Bambil, Maria Amália, passou por muitas mudanças no atendimento ao cliente, desde o que houve de muito mau no regime de Ditadura, passando pela Revolução, com todos os medos da altura e evoluindo até aos dia de hoje onde ainda se encontra atrás do balcão, ensinando e aprendendo o bom e o mau do comércio local”.

Bambil lembra-nos, certamente o nome bambi, e foi precisamente no Bambi da Walt Disney que se inspiraram para encontrar o nome certo: Bambi, no contudo, a marca viu-se obrigada a alterar o nome.  “Pouco tempo depois da  loja abrir, recebemos, de Espanha  uma carta a pedir direitos de autor sobre o nome e o boneco. Para não haver grandes alterações no nome acrescentamos  uma letra passando a ser Bambil. Engraçado que muitas clientes antigas ainda chamam Bambi”, conta-nos.

Cristina conta-nos que “O gosto de lidar com o público (de D. Amália) foi passado para a única filha e, em 1989, abrimos outra loja com artigos de bebé, também pioneira na venda  especializada de  Puericultura pesada, artigo de Enxoval, brinquedos de bebé e moda até aos 8 anos a qual chamámos bebé Bambil”.

Foi na evolução do brinquedo que a Bambil se focou sempre, chegando mesmo a importar de grandes feiras internacionais, para as quais era convidada a visitar e comprar.

Na altura do Natal, a Bambil aumentava sempre o número de funcionários, tanta era a procura, chegando a ter 10 trabalhadores.

“Houve natais que tivemos que pagar a polícia para estar na porta, tal era a afluência na loja. Por vezes tínhamos que entrar pelo armazém, pois estava fila na porta e nem conseguíamos pousar as malas”.

Em 2013, fecharam a loja mais pequena, para concentrarem todos os artigos na Bambil original, “tanto por esta ser maior como pelas memórias que ali perduravam na família e até nos clientes”, conta-nos Cristina.

A Bambil faz, sem dúvida, a memória das crianças, hoje já adultas, dos montijenses. Certamente que se lembrará da felicidade que era quando recebia um brinquedo da Bambil.

“Esta loja continua a ser uma loja de boas saudades, temos muitos clientes que ali vão com filhos e netos e contam com emoção, como viviam a tradição do natal, as dificuldades que os pais tinham para comprar o desejado brinquedo e o tempo que passavam horas na montra a viver os sonhos de criança”.

A Bambil era uma das lojas mais concorridas, chegando a ter nove lojas abertas, apenas na baixa, com os mesmos artigos. Cristina conta que a insistência da D. Amália fez com que a Bambil se adaptasse a novos tempos, ou seja, às novas tecnologias. A adaptação foi feita tendo sempre como requisitos a qualidade e exigência dos produtos “talvez por isso ainda não tenhamos perdido esta batalha e o reconhecimento dos clientes pela casa”.

“Ainda hoje, muitos pais e avós, fazem questão de vir comprar as primeiras roupas dos seus bebés, reconhecendo sempre a nossa escolha de produtos. Temos muitas, muitas histórias, de crianças que hoje são já avós, e alguns fazem questão de entrar e contar aos seus descendentes, sempre começando pela frase “Lembra-se D. Amália?” 

A loja readaptou-se e deixou mais o ramo do brinquedo, porque atualmente as crianças ligam-se às tecnologias em tenra idade e deixam de brincar. “Além disso, muitas marcas e fornecedores nacionais fecharam as suas portas e tornou-se difícil acompanhar as compras nos grandes mercados internacionais. Apesar disso, procuramos sempre novidades que possam ser uma mais valia na loja”.

Questionámos Cristina sobre como se adaptaram a estes tempos difíceis que vivemos “Nesta altura tão difícil e em especial esta  loja só pede aos seus clientes que se mantenham e aos novos clientes que continuem a procurar a venda personalizada do comércio local para que não se percam estas tradições tão importantes na nossa terra”, apela.

A Bambil acompanha sempre as vendas, agora também em formato online, nas redes sociais e com entregas ao domicílio, mas “o que gostamos mesmo é de ter o cliente na loja, até porque as crianças são os melhores clientes do mundo”, salienta.

Cristina mostra-se desejosa de voltar aos desfiles de moda, “concursos de fotos dos nossos pequenos modelos, eventos de música e de rua, situações de grande suporte de vendas e que adoramos fazer com as nossas crianças”.

A Bambil prepara-se para lançar a coleção Primavera/Verão, esperançosos de que “vamos todos ficar bem, e que voltemos à normalidade da nossa baixa da cidade que tanto falta faz a todos”.

Contactos

Rua Afonso Palla 5 Montijo

935 345 727

[email protected]

www.lojasbambil.com/

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