Mercado Central Municipal do Montijo — Antigo centro comercial, futuro museu?
Situado no coração da cidade do Montijo, o Mercado Central Municipal é um notável exemplar da arquitetura comercial do Estado Novo.

Construído em 1957 com o projeto do arquiteto Paulo Cunha e do engenheiro Santos Silva, este edifício combina elementos do modernismo com traços da Arte Nova, representando um período de transformação e inovação na cidade.
As fachadas do mercado exibem um arrojo arquitetónico, com faixas verticais e horizontais que quebram a simetria tradicional. Elementos de arte déco, como superfícies planas e linhas puras, também são visíveis. O mercado, além de ser um espaço comercial, é uma peça arquitetónica que se destaca na paisagem urbana de Montijo. A sua estrutura em betão e vidro, característica das construções públicas da época, destaca-se pela ênfase na funcionalidade em detrimento da estética. A torre do relógio de cinco registos, com um brasão da cidade de Montijo no primeiro registo, cria um contraste marcante com a continuidade horizontal do edifício.
Ao explorar o seu interior, os clientes encontram um espaço diferenciado, onde o mercado de verduras, o mercado de peixe, a venda de carne e enchidos e escritórios coexistem numa coreografia única. O edifício principal apresenta um amplo pé-direito, suportado por arcos rebaixados e contrafortes, proporcionando uma experiência única de compras.
O OnCity prestou uma visita ao mercado e, em conversa com alguns comerciantes do Mercado Central Municipal de Montijo, fica evidente que estes enfrentam desafios significativos. Em resposta à simples pergunta “Como vai correndo a atividade comercial e o movimento por aqui?”, a resposta mais comum é muito curta: “Está mal!”. Tentando perceber as razões também são unânimes as explicações; “os fornecedores fazem preços cada vez mais caros, o que nos faz diminuir a oferta de produtos, que por sua vez faz com que cada vez menos pessoas cá venham (…) afinal a mais-valia do mercado era podermos encontrar uma variedade de produtos todos no mesmo sítio.”.
Ainda revelam a dificuldade em manter negócios lucrativos.
Além disso, a concorrência das grandes superfícies, que continuam a surgir na cidade, é vista como uma desvantagem. “Eles podem pagar aos fornecedores o que quiserem e quem paga esse aumento são os clientes, na ótica deles não tem problema nenhum, mas para nós é cada vez mais complicado só abrir a banca de manhã…”.
A faixa etária dos comerciantes também é notoriamente alta pelo que, para aqueles que têm este espaço e ofício no coração, deixa um sentido de incerteza e mágoa: “Não vem para aqui ninguém após mim…”. Assim, o futuro do mercado também preocupa os comerciantes, que não sabem quem ocupará os espaços quando se aposentarem ou fecharem os negócios. Alguns temem que o mercado possa eventualmente tornar-se num museu.
“É uma questão de tempo e o Montijo ganha um novo museu.”, dizem-nos num tom misturado de boa disposição e anseio.
Boa disposição certamente nunca ali há de faltar e, na verdade, muitos produtos são exclusivos e difíceis de aceder nas grandes superfícies, deixamos a dica para quem procure algo especial.
Apesar destes desafios, o Mercado Central Municipal de Montijo permanece como um local especial para a comunidade local. A sua história, arquitetura única e atmosfera acolhedora continuam a desempenhar um papel importante na vida da cidade.