O que é feito dos merceeiros?

No passado século nenhuma cozinha passava sem a "mercearia da esquina", hoje o negócio foi abafado pelas grandes superfícies.

Há muito que o pequeno comércio tem sofrido com a chegada das grandes cadeias de abastecimento e a prova disso é a queda do número de mercearias existentes no concelho do Montijo. A partir de 1967, ano do primeiro registo, o número de mercearias na cidade atingiu o seu auge, contando com 276 espaços de comércio. Em 2001, já só existiam 90 e atualmente apenas um terço dos espaços vinga.

Esta profissão tradicional que outrora abasteceu tantas despensas tem os dias contados e muitos merceeiros consideram que o seus estabelecimentos apenas servem para “desenrascar” alguns clientes quando estes se esquecem de certos produtos nas grandes superfícies comerciais.

O movimento nas ruas já não é o mesmo e isso reflete-se no interior do Cantinho Lusitano, a mercearia e frutaria da Avenida dos Pescadores. Os bolos fazem salivar quem entra, a fruta está impecavelmente exposta e as prateleiras enchem-se de produtos vistosos, mas nem sinal dos fregueses. José Castanheira inaugurou o espaço há apenas dois anos, tempo suficiente para sentir na pele a fraca procura dos montijenses.

José Castanheira certifica-se de que o espaço está sempre pronto a receber fregueses

Tem a sua vida inteiramente dependente deste negócio cujo único ponto alto das vendas foi o primeiro ano de pandemia. “O primeiro ano da pandemia foi muito bom para os pequenos comerciantes porque os grandes centros estavam fechados e as pessoas vinham procurar ao pequeno comércio. Mas foi apenas esse ano. O segundo já foi mais fraco e este terceiro está a ser pior.”, garante.

A fruta fresca é a alma do negócio e vai “servindo para pagar as contas”. “Temos uma grande variedade de fruta e isso também chama a atenção de quem passa. A maioria das pessoas que entra vem pela fruta e só 30% é que leva outro tipo de produtos”, conta o merceeiro.

Em tempos, José Castanheira foi dono da Maravilhas do Campo, a mercearia da Avenida Almirante Reis, mas a falta de lucro foi determinante para o fim do negócio. Partiu para Lisboa em busca de um melhor cenário e, em conversa com os “vizinhos merceeiros” percebeu que “os tempos estão difíceis em todo o lado. Todos se queixam (…) Lisboa até pode ter mais movimento, mas nem sempre se traduz em movimento de vendas“, confessa.

A fruta é a mercadoria principal do “Cantinho Lusitano”

Regressou ao Montijo com a ideia de vingar com um espaço que atraísse pela frescura da futa. Hoje, admite que “preferia estar noutro ramo, mas vou ficar aqui até dar”. Num cenário idêntico ao Cantinho Lusitano estão muitas outras mercearias que pararam no tempo e esperam ansiosamente os dias de trabalho acelerados em que o regional era privilegiado.

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