Rua Natália Correia: Retratos de uma poetisa opositora
Foi poeta, dramaturga, jornalista, política e muito mais. Recordamos a vida de um marco na cultura portuguesa.

Natália de Oliveira Correia nasceu a 13 de setembro de 1923, em Fajã de Baixo, São Miguel. Com apenas 11 anos, o seu pai emigrou para o Brasil, levando a Natália Correia e à sua mãe e irmã a aposentarem-se por Lisboa, local onde concluiu os seus estudos, no liceu D. Filipa de Lencastre. Fez da poesia sua paixão através das suas vastas publicações.
No entanto, a poetisa destacou-se também noutros géneros literários, tendo sido também dramaturga, romancista, ensaísta, jornalista, tradutora, guionista e editora. A sua carreira enquanto jornalista conheceu o seu auge através da imprensa escrita e, mais tarde, através do programa Mátria, no qual procurava transmitir o lado matriarcal da sociedade.
Coordenou, durante alguns tempos, a Editora Arcádia, uma das principais editoras livreiras do seu tempo. No entanto, não se ficou apenas pelo seu gosto e talento pela escrita, mas, dotada também de um grande poder oratório e de persuasão, vingou também na política. Tomando parte ativa na frente opositora contra o Estado Novo, participou no Movimento de Unidade Democrática, em 1945, e no apoio à candidatura para presidência de Norton de Matos, em 1949 e de Humberto Delgado, em 1958. No ano de 1969, participou ainda na Comissão Eleitoral da Unidade Democrática, liderado por Mário Soares.
Pela publicação da sua obra “Antologia da Poesia Portuguesa Erótica e Satírica”, foi condenada a três anos de prisão, com pena suspensa. Foi ainda processada, em pleno Estado Novo, pela escolha editorial sobre a publicação “Novas Cartas Portuguesas”. O seu poder e a sua força política conduziram-na ao Parlamento, pela lista do PSD, motivada por Francisco Sá Carneiro. No entanto, ao não se identificar com posições da lista que representava, traçou o seu caminho como deputada independente.
Foi fundadora, em 1971, do bar Botequim, que era frequentado pelas figuras mais intelectuais portuguesas e o seu entusiasmo e apreço pela música moveram o aparecimento do café-concerto em Portugal. Em sua casa recebera grandes nomes da escrita como Henry Miller, Graham Greene ou Ionesco.
A 13 de julho de 1981 foi consagrada a Grande-Oficial da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada e recebeu, em 1991, o Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores pelo livro “Sonetos Românticos“. Foi ainda consagrada pela Ordem da Liberdade.
Retornou à sua carreira política em 1985, aliada ao Partido Renovador Democrático e a Ramalho Eanes. Foi mulher de grandes paixões, tendo-se casado quatro vezes ao longo dos seus 70 anos.
Morreu a 16 de março de 1933, de um súbito ataque cardíaco, ao regressar a casa depois de uma noite no Botequim. Os seus bens foram maioritariamente entregues à Região Autónoma dos Açores. Foi sepultada no Cemitério dos Prazeres e transladada, em 2015, para a ilha de São Miguel, nos Açores.