Florineve: 25 anos a espalhar alegria a cores
Nasceu do sonho de Vítor e Anabela Araújo e é uma das grossistas de flores mais influentes a nível nacional, contando com 25 anos de existência.
Cheira a terra, a flores, a natureza. Os nossos olhos enchem-se de cor ao entrar pelos portões da Florineve. Aqui, o que não falta são caras em cada canto do campo a trabalhar, em prol da magia que pretendem espalhar aos seus clientes com as flores que produzem. Quem nos recebe é Vítor e Anabela Araújo, um casal que faz da floricultura a sua vida e paixão.
O Montijo é lar deste casal, que encontra no facto de ser a capital da flor uma oportunidade para conquistar a confiança diária dos seus clientes. Cerca de 60 a 70% das flores de corte produzidas em Portugal são produzidas no município, pelo seu clima propício para a plantação. Para os floricultores do município, este é um dos motivos de maior orgulho, uma vez que cerca de meio milhão de pés de flores são colhidos diariamente em campos montijenses.
Este selo de qualidade que traz reconhecimento às plantações do Montijo não poderia ser motivo de maior orgulho para o casal, que tem trabalhado com afinco para assegurar que “as flores do Montijo continuam a ter a tradição de ser conhecidas como boas e em grande qualidade”.
Existem cerca de 20 produtores em todo o Montijo, o que representa aproximadamente 100 hectares, para a produção de flores de estufa. Nos olhos de Vítor Araújo reina o brilho quando reflete sobre a forma como a floricultura chegou até si. É que mais do que um negócio que incorpora na Florineve, todo o seu percurso de vivência esteve ligado à produção de flores. Famílias que foram trazendo famílias para o negócio e assim se cultivou o gosto de Vítor Araújo.
“Eu lembro-me de estar envolvido na floricultura desde que tinha 8 anos, foi quando ficámos responsáveis por uma das quintas da Florisul. Até aos meus 30 anos, morei sempre numa quinta e o meu maior gosto foi sempre pela floricultura. Passados largos anos, aproveitámos o facto dos meus pais já terem adquirido um pedacinho de terra aqui no Seixalinho e fomos construindo o nosso projeto de raiz”, realça com um sorriso de canto a canto.
Com entusiasmo, conta a forma como os seus pais encontraram na produção de flores uma oportunidade de estabilidade ao chegarem de Angola. A gratidão pelo trabalho e pelo serviço que têm conquistado é o reflexo do crescimento que a Florineve tem experienciado.
“Começámos com 1 hectar de área coberta e com cerca de 10 trabalhadores. Neste momento, estamos com cerca de 30 hectares e 110 colaboradores. É também este percurso todo que faz com que a Florineve seja uma das maiores a nível nacional“, salienta Vítor Araújo.
Com apenas 25 anos de existência e sendo resultado de um sonho de ambos, a Florineve nasce do desejo de marcar a diferença e dar continuidade “à paixão que veio de forma hereditária”. O que os distingue melhor? O facto de serem “uma casa aberta a todos os apaixonados por flores”. Romperam com o tradicional de produção exclusiva para revendedores e floristas e destacam o quão desafiante tem sido esse ato e o quanto esta porta aberta a outros meios tem alavancado o seu produto.
“Quando iniciámos o trabalho por conta própria, fomos abordados por algumas superfícies porque queriam que se confecionasse um produto fora da forma standard. Procuraram-nos e nós aceitámos o desafio de confecionar produtos para supermercados, algo apelativo.”, destacou.
Aquele que era o desafio de produzir algo fora do padrão adotado por todas as empresas de produção de flores, veio reforçar que “as flores não são objetos caros e de difícil acesso ao público”. Pelo contrário, encontraram nesta forma de confecionar um ramo ou buquê uma oportunidade de “aumentar o consumo das mesmas”.
Profissionais, quintas de eventos, floristas e supermercados são algumas das clientelas mais frequentes desta grossista de flores. E quando inquiridos sobre a altura do ano em que trabalham mais, Vítor Araújo não esconde a preparação prévia que têm de fazer para os famosos feriados.
Os preparativos vão sendo feitos meses antes dessas datas, para conseguir chegar aos dias festivos com uma variedade atrativa a oferecer aos compradores. Afinal, é também a tradição e a festividade que justifica “o aumento substancial de vendas”.
Para Anabela Araújo, parte do casal fundador, a prática de floricultura não nasceu consigo, mas facilmente conquistou um lugar especial no seu coração. Relembra o quanto já gostava de flores, embora não fizesse dessa a sua vida enquanto viveu na Madeira, local em que nasceu e conheceu também Vítor Araújo.
“Sempre tive um gosto pela natureza. O meu pai era agricultor e a minha mãe tinha o seu jardim e eu sempre tratei das flores como se dos meus filhos tratasse. Quando me mudei para aqui, apaixonei-me. Aos poucos e poucos começámos pelo negócio mais pequenino e fomos crescendo“, destaca Anabela com felicidade.
Mais do que a sua área de trabalho, o casal reconhece a importância de serem floricultores 24 horas por dia e sabem que o trabalho não cessa quando vão para a sua casa. Entre risos, Vítor Araújo confessa que a prática e a paixão são o segredo para o sucesso. Ser floricultor não é algo fácil de se aprender e requer muita dedicação.
“Cuidar das flores não é algo que se aprende simplesmente nas universidades. Para este meio tem de se ter muito gosto e conhecimento e esse conhecimento só se adquire trabalhando numa estufa de flores. São precisos vários anos para se produzir flores de qualidade como produzimos”, ecoa estas palavras com confiança, com orgulho e com certezas.
Não levam esta missão de ânimo leve e reforçam que o mais importante é o compromisso com os seus clientes. É este envolvimento que os leva a destacarem com entusiasmo a forma como apresentam “um grande leque de oferta de flores e verduras”, produzindo mais de 20 a 30 qualidade de flores diferentes.
A pandemia veio trazer dias negros para esta área e é com alguma tristeza no olhar que Vítor Araújo relembra os tempos difíceis que a empresa passou. Com meses em que apenas rentabilizavam-se 10% das produções, reconhece que a missão mais difícil a adotar nesse período foi “abandonar os campos menos rentáveis e com produções mais antigas, reduzir a área de produção e reestruturar a nível de colaboradores”.
O leque de oferta diminuiu, assim como a quantidade de produção, mas o casal de empresários não desistiu do seu desejo de voltar a elevar o nome da Florineve.
“Ver as vendas a passar para 10% foi assustador. Chegámos a encher carrinhas de flores, para não se perder a produção, e ir oferecer para as ruas. No entanto, as pessoas tinham medo de as aceitar e a nós cortava-nos o coração ter tantas flores por desperdiçar. Os dias estavam cinzentos, as pessoas estavam deprimidas e o nosso desejo era conseguir alegrar um bocadinho dos seus dias. Foi uma sensação tão frustrante ver as pessoas a recusarem esta oferta”, reforça com preocupação.
Com um cenário tão negro, decidiram arregaçar as mangas e ver também na pandemia uma oportunidade de colaborarem mais com a sociedade. Com as vendas em baixo, procuraram colocar as suas flores à disposição dos verdadeiros heróis da pandemia, colaborando com hospitais e profissionais envolventes na área da saúde e forças de segurança. Não se cansaram de procurar levar alegria a cada um.
O lay-off foi também um dos momentos que recorda com maior impacto. Não pelas dificuldades, mas pela gratidão que sente para com todos os colaboradores que, com o casal, “não arredaram pé” do trabalho a ser feito na empresa. Apoio e alento foi algo que não faltou e é a chave que reconhecem como essencial neste último ano.
De outra maneira não poderia ser, uma vez que o casal vê os seus colaboradores como uma grande família e reconhece também o auxílio e entreajuda como fundamental para o sucesso.
“Ninguém aqui traz almoço de casa. Almoçamos todos na cantina. É o nosso tempo de partilha e convívio. Temos um cozinheiro a trabalhar connosco, confecionando três pratos por dia e a servir aqui refeições. É algo também que nos torna mais próximos uns dos outros”. Na pandemia, mesmo requerendo adaptações e medidas extra de segurança, o casal manteve as portas da cantina abertas e não cessaram de procurar as melhores condições para todos.
E se gratidão é o que sente por nunca terem deixado de trabalhar com afinco e dedicação, Vítor Araújo relembra também uma das etapas decisivas na adaptação em período pandémico: a criação de um website “Flores no Cais” (Pode consultar em https://floresnocais.pt/ ). Esta já é a sua marca há alguns anos.
A crescente procura do público levou-os a abrir a sua florista, com casa em três locais diferentes: Cais do Seixalinho, Fórum Montijo e Fórum Almada e reconhecem o sentido de oportunidade que é ter uma florista própria a colaborar com os mesmos.
Com o website, reconhecem que foi mais do que uma simples forma de adaptação em períodos pandémicos. Agora tinham a oportunidade de “levar flores a qualquer parte do país, em 24h apenas”. No entanto, Vítor Araújo confessa o seu desejo de não ficar apenas por estes locais.
“Estamos com ideias de abrir mais Flores nos Cais em outras partes do país. Queríamos uma loja presencial em Lisboa ou, quem sabe, abrir mesmo um franchising”, destaca com entusiasmo.
Quando sonham para o futuro da Florineve, um dos principais alvos a alcançar é “centralizar os campos de produção mais perto da sede”, permitindo-lhes crescer e prestar auxílio a toda a produção de forma mais facilitada e, quem sabe, um dia deixar o legado aos seus filhos, para que se continue a produzir flores com qualidade e com o cuidado que ambos têm para dar.