Retrosaria e Atelier 3 Desejos Coloridos: Quando a agulha se apaixona pelo tecido

Nas pacíficas ruas de Sarilhos Grandes, existe um ponto colorido que assume vida própria. Apesar de estáticos, os tecidos e as agulhas fazem um convite à imaginação e, assim que entramos na Retrosaria e Atelier 3 Desejos Coloridos, somos invadidos por uma súbita vontade de criar. A responsável por esta sensação é a divertida Marisa Silva, proprietária do espaço.  

Em 2014, Marisa Silva estava muito longe de imaginar que o seu lado mais criativo iria dar asas a um negócio de costura. Tudo começou quando engravidou e percebeu o custo elevado que exigia decorar um quarto de criança. Decidiu contrariar esta realidade e fazer, pelas suas próprias mãos, a decoração do quarto da sua filha. 

Alentejana de berço, desde pequena que a costureira dominava o ponto de arraiolos e as restantes técnicas de costura foi aprendendo de forma autodidata, através de vídeos na internet. Foi também na internet que começou a publicitar o seu trabalho e ao receber encomendas constantemente percebeu que não podia parar.

“Eu fazia cerca de 100 a 150 quartos de bebé por mês. As pessoas gostavam muito do meu trabalho, ao ponto de ter três meses de agenda preenchida.”, conta animadamente a costureira. Com o gosto pela confeção a aumentar de dia para dia, o espaço que tinha em casa já não era suficiente para guardar os tecidos que ia colecionando. Assim, em 2017, decidiu arriscar e abrir uma retrosaria no espaço que outrora fora uma fábrica de bolos.

Hoje, Marisa Silva tem um atelier que cativa pela diversidade de materiais disponíveis para o cliente e, acima de tudo, pelos vistosos tecidos que piscam o olho a qualquer um. “A última vez que fiz inventário tinha mais de 900 padrões de tecidos (…) Existem pessoas que fazem coleção de isqueiros, pacotes de açúcar, mas eu faço de tecidos e a loja acabou por ser uma forma de os colecionar”, salienta a proprietária.

Mas este espaço divertido não se esgota apenas na venda de materiais de costura, pois, para a costureira, nada faz mais sentido do que partilhar os conhecimentos que tem. Foi com esta ideia que, em conjunto com outras mentes criativas, criou o grupo privado “Gatas artesãs” no Facebook, através do qual dá workshops de costura criativa e crochê. Um mundo onde todos falam a mesma língua e a imaginação parece não ter limites.

Com a interação constante entre os membros do grupo, Marisa Silva acredita que o interesse pela confeção está a voltar e isso também se reflete na idade das costureiras. “Hoje em dia, com as questões ambientais existe uma valorização do que é feito à mão e, mesmo as faixas etárias mais novas estão a aderir e querem muito aprender”, reflete satisfeita.

Afastando a ideia de que a “costura é trabalho de avó”, a proprietária acredita que, nos tempos que correm, “as pessoas valorizam muito o facto de terem peças únicas”, às quais dedicaram tempo de qualidade. “Eu acho muito engraçado porque existe uma mudança de mentalidade e acabamos por voltar um bocadinho ao tempo dos nossos avós em que se utilizava muito as costuras, os vestidinhos de crochê”, conta.

Sendo uma pessoa que ambiciona sempre mais, Marisa Silva afirma que o próximo passo é tornar-se especialista na confeção de roupa. A sua forma própria de olhar o mundo permite-lhe ver além de um tecido e imaginar no que este se poderia criar. “Ontem fui a Óbidos, trouxe este lenço e vou fazer um top. Eu tenho assim estas ideias malucas”, ri.

Em forma de confissão, a dona da retrosaria admite não trocar a sua profissão por nenhuma outra, pois são as agulhas e os tecidos que a acalmam quando se sente mais nervosa. “Sou uma pessoa que sofre de ansiedade (…) então quando agarro num tecido ou o simples facto de estar a criar alguma coisa ou a imaginar uma criação faz-me ficar mais feliz”, admite.  E é notório o sorriso de orelha a orelha que a costureira exibe quando está no seu mundo.

Saiba mais sobre o trabalho da Retrosaria e Atelier 3 Desejos Coloridos em: https://www.facebook.com/retrosaria3desejoscoloridos