Grupo de Cicloturismo do Afonsoeiro: Há 25 anos a pedalar pelas estradas de Portugal
Em semana de Volta a Portugal fomos conversar com o Grupo de Cicloturismo do Afonsoeiro, a mais antiga equipa em atividade registada na Federação Portuguesa de Cicloturismo e Utilizadores de Bicicleta. Em entrevista, o Presidente do grupo, José Borges, contou a história, as iniciativas que realizam e as melhores memórias desta equipa que pedala pelas estradas de Portugal há 25 anos.
Como surgiu a ideia de fundar o grupo?
A ideia surgiu de um amigo meu de infância, ele gostava muito de andar de bicicleta. Trabalhávamos juntos e em conversas falámos de um evento que ia acontecer no Estrela do Afonsoeiro [Estrela Futebol Clube do Afonsoeiro], do qual ele fazia parte, que era as comemorações do 25 de Abril. Pela primeira vez juntei-me a ele, arranjei uma bicicleta e nesse ano fui fazer esse passeio, isto em 1995.
No fim de semana seguinte já foi o meu irmão e mais outro amigo e a partir daí foi sempre a crescer, nunca mais parou, começou a entrar mais gente e acabámos por formar o nosso próprio grupo. Entretanto a equipa do Estrela acabou e esse tal amigo também veio para o nosso grupo, juntámos uma meia dúzia de pessoas e nunca mais parou até hoje.
Quantos atletas é que o grupo tem atualmente?
O grupo nunca teve muitos atletas, devemos ser uns 15/20, mas normalmente para os passeios vão sempre 6/7, até porque a lotação da carrinha são 7. Se forem mais pessoas há sempre alguém que leva o carro e vai atrás, como já aconteceu várias vezes, conseguimos sempre fazer-nos representar em todos os lados.
O grupo organiza anualmente a Clássica em Cicloturismo. Como surgiu e no que consiste esta iniciativa?
Antes da Clássica nós já realizávamos passeios em conjunto com a Comissão de Festas do Afonsoeiro. Normalmente os passeios de cicloturismo são ao domingo de manhã e aqui no Afonsoeiro os domingos de manhã estavam um bocado vazios, então a Comissão aderiu à ideia. A Clássica vai fazer 15 anos, mas já realizamos passeios há 20 anos ou mais.
A Clássica é um passeio de ida e volta até Canha. Partimos do Afonsoeiro, damos sempre uma volta aqui às ruas do bairro, apanhamos as estradas nacionais e vamos até Canha, passamos pela Atalaia e pelas Faias, temos sempre de pisar terrenos de Câmaras vizinhas, mas são poucos quilómetros. É um passeio mais dentro do nosso concelho, tem uma extensão razoável, anda sempre à volta dos 80 quilómetros. Ao chegar a Canha é feito o abastecimento, um intervalo para as pessoas se abastecerem de fruta e águas, depois voltamos ao ponto de partida.
Demos o nome por graça e ficou a Clássica. Este passeio tem seguro desportivo, acompanhamento da Brigada de Trânsito e da Cruz Vermelha. Tem o apoio da Câmara Municipal do Montijo e da Junta de Freguesia da União de Freguesias do Montijo e Afonsoeiro, da Junta de Freguesia de Canha e de outras entidades amigas que contribuem.
Quantos participantes costumam ter?
Em média entre 200 e 300. Houve um ano que metemos aí uns 400 cicloturistas, foi o ano que tivemos mais gente, foi um desassossego de bicicletas neste Afonsoeiro.
Vem gente de todo o lado para o passeio. Também já somos uma equipa com muitos anos, já somos conhecidos. Todos os domingos participamos em eventos dos outros grupos e normalmente há sempre retribuição. Temos pessoas de Arraiolos, Grândola, Extremoz, Sines, Santiago do Cacém, também vem muita gente de Lisboa, Almeirim, Cartaxo …
O que é preciso para ser membro do grupo? Realizam treinos específicos?
Ter uma bicicleta, ter gosto por andar de bicicleta, gostar e saber estar em grupo. Isto também tem a parte do convívio, da amizade e dos laços que se criam.
Não fazemos treinos específicos. Quando não há passeios organizados, como agora por causa da pandemia, juntamos a equipa e aos domingos de manhã vamos sempre dar uma volta.
O grupo foi recentemente distinguido por parte da Federação Portuguesa de Cicloturismo e Utilizadores de Bicicleta por ser a equipa mais antiga em atividade inscrita naquela Federação. Como foi ter esse reconhecimento?
É um sentimento de satisfação por terem reparado em nós e terem dado alguma importância.
“O que falta é as pessoas terem gosto por esta modalidade, isto envolve muito tempo”
Quais são os momentos que mais se destacam ao longo destes 25 anos?
São dois. A primeira vez que organizamos passeio de cicloturismo com almoço, fizemos no salão dos Bombeiros Voluntários do Montijo, tivemos um trabalho enorme. Houve um sujeito que participou de forma individual e trouxe a esposa como acompanhante, ficaram para almoçar. Ao final fui ter com eles e perguntei se tinham gostado e se estava tudo bem, a senhora respondeu ‘há casamentos que são piores do que isto’, isso quer dizer tudo e nós ficámos muito orgulhosos e satisfeitos.
O segundo momento foi no ano seguinte, também no pavilhão dos Bombeiros, tivemos pela primeira e única vez a presença da Senhora Presidente da altura, a Doutora Maria Amélia Antunes. Todos os anos fazemos o convite ao Presidente da Câmara e aos vereadores e nesse ano a Senhora Presidente foi ao nosso almoço e viu como funcionamos, deu umas palavras de incentivo e agrado e ficámos também marcados por esse momento, que até hoje foi único.
Qual foi o impacto da pandemia para o grupo?
Não convivemos com outras pessoas que normalmente convivemos aos domingos porque não temos ido aos passeios, nem têm existido. Cancelámos a Clássica, estava tudo organizado para se fazer em agosto, mas devido a isto teve de ser cancelado. Esperamos que para o ano seja possível.
O que falta para impulsionar a modalidade e grupos como o vosso?
O que falta é as pessoas terem gosto por esta modalidade, isto envolve muito tempo. Temos passeios que saímos daqui às 06h00 da manhã e chegamos às 18h00 da tarde, passeios que são muito longe.
Os custos também não ajudam, cada um de nós suporta as suas despesas, o grupo não paga as despesas de ninguém. Para onde vamos cada atleta paga as suas despesas, desde refeições até ao gasóleo que se mete na carrinha que é a dividir por todos. O grupo não tem fundo de maneio para estar a pagar isso, o pouco dinheiro que vai arranjando é para inspeções e reparações da carrinha e os seguros.
Quando perguntam quanto se paga para entrar no grupo dizemos ‘aqui ninguém paga nada, mas todos têm de pagar tudo’. Temos uma quota mensal, cada atleta paga a sua cota, e é esse dinheiro juntamente com alguma publicidade que vamos tendo, que vai ficando para reparações da carrinha e essas coisas.
Recebemos um apoio anual da Câmara e da Junta de Freguesia, mas é única e exclusivamente para a realização da Clássica, para a ajuda das lembranças coletivas e individuais. A Junta de Freguesia de Canha também tem colaborado e serve para a ajuda do abastecimento, porque não paga na totalidade.
A Câmara além do apoio monetário que dá ainda nos põe ao dispor o seu seguro, paga o policiamento e mete aqui a Cruz Vermelha. Durante a pandemia a Câmara Municipal do Montijo apoiou-nos também com ajuda para a aquisição de novos equipamentos.
Quais são as perspetivas e objetivos para o futuro?
É continuar como tem sido e participar no maior número de passeios possível. Não temos muito mais para expandir, a expansão já está feita, os passeios são quase sempre os mesmos, às vezes lá aparece um novo e nós vamos, basicamente é assim que funciona.