Luís Sequeira: “O que mais ambiciono é conseguir fazer a minha vida da música que dou, faço e escrevo”
Quando era criança, Luís Sequeira sonhava ser o próximo Cristiano Ronaldo e a música não estava nos planos. Em 2014 foi finalista do programa “The Voice Portugal”, onde teve como mentora Marisa Liz. Atualmente o cantor do Montijo está a preparar o primeiro álbum e o seu single “Se ao menos eu te odiasse” faz parte da banda sonora da novela “Nazaré” da SIC.
Conta-me um bocadinho da tua infância e como foi crescer no Montijo.
Nasci no Barreiro, mas sou do Montijo, sempre vivi cá. Fui um puto muito sortudo, tive uma infância feliz. Queria ser o próximo Cristiano Ronaldo, a música não estava nos planos. Não aproveitei tanto a adolescência como outros miúdos, dediquei-me totalmente ao futebol, não saía à noite, não bebia álcool e não fumava.
Como é que a música entrou na tua vida?
A música sempre esteve presente na minha vida. Sempre gostei muito de cantar e o meu pai era um apreciador imenso de música e foi partilhando comigo o gosto dele.
Gostava de cantar no carro e os meus pais achavam graça. Um dia fomos a casa de uns amigos e eles tinham uma guitarra clássica e a minha mãe reparou que eu estava muito interessado. Aos 14 anos deram-me uma viola para as mãos e a partir daí começou a existir uma divisão imensa entre o futebol e a música, mas eu dava sempre prioridade ao futebol.
Quando cheguei aos 17 anos comecei a ter os primeiros concertos ao vivo, estava rodeado por um grupo de amigos que também gostava muito de música, então parece que foi tudo colado na perfeição para despontar o que ainda hoje se verifica que é o facto de adorar música, adoro mesmo, vivo para a música.
Como surgiu a tua participação no “The Voice Portugal”?
A minha mãe é que me inscreveu. Depois desses concertos e de ter começado a ter mais contacto com a música ao vivo e com a teórica também, o futebol foi ficando cada vez mais para trás.
Antes de ir ao “The Voice Portugal” fui a dois concursos, aos “Ídolos” e ao “Factor X”. Quando fui aos “Ídolos” aquilo não correu bem, passei as provas, mas tive medo, não continuei porque não estava preparado. Dois anos depois fui ao “Factor X”, toquei a High and Dry [Radiohead] mas não passei, para o “The Voice” levo a mesma música e consigo passar.
“Não consigo e nem acho que me deva desvincular do programa, vou ser sempre o miúdo do “The Voice””
És conhecido como o Luís Sequeira do “The Voice Portugal”. Consegues definir-te como um artista individual sem estar associado ao programa?
Presentemente acho que isso ainda não se verifica. Mas depois também penso como é que me vou desvincular de uma coisa que foi a razão de ingressar numa carreira musical? Não consigo. Estou imensamente grato ao “The Voice”, onde conheci a Marisa Liz, a minha mentora e minha grande amiga. Não consigo e nem acho que me deva desvincular do programa, vou ser sempre o miúdo do “The Voice”, especialmente para a geração que me acompanhou e me conheceu lá.
Já sabias quem querias como mentor?
Não, era para escolher o [Rui] Reininho porque sou um grande fã de GNR. Mas existiu ali uma ligação qualquer, foi uma conexão que tive com a Marisa Liz e ela comigo.
Tenho a sorte de falar com ela e desabafar, especialmente quando é para conselhos da vida artística recorro muito à palavra dela porque ela tem muito mais experiência do que eu. Tenho a sorte imensa de contar com ela como amiga.
O teu single “Se ao menos eu te odiasse” faz parte da banda sonora da novela Nazaré. Como foi essa experiência de ter um tema como banda sonora de uma novela?
Foi incrível, foi um momento mágico. Os meus amigos nunca viram novelas na vida e agora vêem só para ouvir. A letra é do meu pai e acho que “assenta que nem ginjas”.
Recebes muito feedback das pessoas?
Muito. O single quando entra na novela já tem pouco mais de um ano de lançamento, ou seja, nada indicava que aquilo podia resultar porque passou o tempo. Pela força do público a música ganhou força também, as visualizações dispararam, a notoriedade da música disparou, começou a dar noutras rádios e foi um momento exponencial e eu estou muito contente.
Estás a trabalhar no teu primeiro álbum, como está a correr?
O álbum estava quase finalizado só que veio a pandemia. O projeto da construção do álbum congelou e só retomou agora no início de setembro. Estamos a discutir quais são os potenciais singles, não sabíamos como havíamos de escolher, o que é bom, neste caso não saber é bom.
Como é o teu processo criativo?
Até agora o processo da música em si é todo meu, tenho a ajuda de letras do meu pai e eu também escrevo. É tudo muito espontâneo, é um chamamento, não é uma coisa em que me sente, vá trabalhar e aquilo saía, é uma coisa que vem. É sempre mais provável quando estou sozinho, geralmente à noite, porque é quando está tudo a dormir e estás sossegado somente contigo, e é aí que te encontras, não é com o barulho da vida.
Cantar em português é algo que queres manter ou vais ter músicas noutra língua no teu álbum?
Não, quero manter a questão de escrever em português. As minhas primeiras músicas foram escritas em inglês só que segui o conselho de um professor que me perguntou em que língua pensava, eu disse em português e ele disse que era melhor apostar por aí. Sei falar inglês fluentemente, mas por muito bem que fale não sou inglês e isso vai-se notar ao cantar.
Já passaste por vários locais em concertos, inclusive aqui no Montijo. É importante não esquecer as raízes?
Completamente. Aliás tento dinamizar e dar de volta aquilo que esta terra já me deu, especialmente o apoio que recebo ainda hoje.
Quais os melhores momentos que a música já te deu?
Tantos momentos! Mas conhecer a Marisa Liz e os Amor Electro de uma forma mais familiar. Tenho a honra e o prazer de estar familiarizado com uma das melhores bandas de rock português da atualidade e de ser o seu afilhado.
Um concerto que me ficou na memória foi no Festival da Vila em Lousada. Era basicamente um desconhecido, mas aconteceu um fenómeno que nunca tinha acontecido, foi a primeira vez que me senti uma ‘rockstar’. O festival tinha imensa gente e eu estava a tocar antes do David Carreira e do Dillaz, a meio do concerto juntou-se uma disposição do público com um à vontade nosso a tocar, porque estávamos muito felizes a tocar para tanta gente, que a malta toda começou a cantar tudo e a energia foi incrível.
Quando acabámos o concerto o público não queria que fossemos embora, foi incrível. É uma sensação que te enche a alma, fiquei outra pessoa a partir dai porque percebi que isto pode mesmo dar.
Quem são as tuas inspirações ou artistas que admiras?
Peco um bocadinho por defeito na minha sapiência de música portuguesa. Na minha casa ouvia-se maioritariamente música inglesa ou americana. Sou muito old school devido à música que o meu pai me dava, como os Pink Floyd, Genesis, U2, Radiohead mais recentemente, são para mim deuses.
Muito vinculado a esse estilo tendo sempre a ir buscar e a aceitar quem se pareça com essas influências. Só há relativamente pouco tempo é que comecei a gostar um bocadinho mais de hip hop por exemplo. Em música portuguesa gosto de GNR, Jorge Palma, Amor Electro, Tiago Bettencourt, mas maioritariamente é música inglesa.
Para quem está a começar agora na indústria da música, quais têm sido as maiores dificuldades?
Arranjar um single. Mesmo que faças boas músicas, o que tento ao máximo, o teu material para ser radiofónico é preciso um trabalho bastante aplicado. Tenho a sorte de estar com uma editora que me está a orientar nesse sentido e de ter um manager que também o faz, que é o mais difícil.
“A maior vitória que tenho é quando alguém se identifica com a minha música”
Qual é o papel de um artista na conjuntura atual?
Acho que contrariamente ao que muita gente diz, os artistas são pessoas diferentes. O que espero dos outros artistas e das minhas influências é que me abram os olhos e o coração. Quando vais para a escola ensinam-te a ler, a escrever, a contar e a socializar, mas não te ensinam a sentir, que é uma coisa que as pessoas tomam por garantido.
A arte ajuda a abrir a mente e a afirmar às pessoas que elas não estão sozinhas e que alguém sente o que elas sentem, é por isso que as pessoas se identificam com os artistas. A maior vitória que tenho é quando alguém se identifica com a minha música, é esse o objetivo do artista, não é tentar ensinar.
Onde te podemos ouvir? Já tens concertos marcados?
Ainda estou a aguardar confirmações, mas vou sempre divulgando nas minhas redes sociais. Felizmente tive a boa noticia de que os concertos que estavam marcados e foram cancelados vão ser reagendados, mas ainda não tenho nada confirmado a cem por cento.
Quais são os teus objetivos para os próximos tempos?
Gostava de acabar o disco, entrar em digressão e tocar as minhas músicas, é o que mais ambiciono neste momento. No futuro pretendo criar o próximo disco e ir assim sucessivamente. O que mais ambiciono é conseguir fazer a minha vida da música que eu dou, faço e escrevo.