Adega de Pegões: “O futuro está aqui em Pegões”

A Adega de Pegões é a maior adega do país e é constantemente distinguida com prémios a nível nacional e internacional. A relação qualidade-preço é o que torna estes vinhos tão aliciantes para o consumidor. Numa conversa com a administração da Adega, Jaime Quendera, Enólogo sénior conta-nos o que os vinhos de Pegões Têm de tão especial.

Antes de mais, deixe-me perguntar, qual é a história da Adega de Pegões?

A Adega nasceu em 1958, com início na década de 30, com 60 hectares de vinha. A vinha começou a crescer e o Ti António mandou construir a Adega e entregou a administração aos agricultores com apoio de técnicos da Junta Nacional do vinho desse tempo e as coisas andaram até ao 25 de abril. Passado pouco tempo terminou as vinhas que o antigo regime plantou e houve necessidade de abrir a novos associados, não colonos. A Adega passou por várias fases.

O preço dos vossos vinhos, apesar da Adega já ter ganho vários prémios a nível internacional, mantém-se sempre acessível. É isso que caracteriza também a Adega?

É. A Adega de Pegões é conhecida, e essa é a nossa política número um: fornecer o melhor vinho ao melhor preço, por isso é que temos o sucesso que temos e neste momento já somos a maior cooperativa de vinhos em Portugal.

Adega de Pegões

Os vinhos de Pegões já ganharam mais de 1000 prémios a nível internacional no último ano. O que é que considera que os terrenos de Pegões têm para produzir as uvas que se transformam nestes vinhos tão únicos?

Olhe, nada acontece por acaso. Nós estamos numa região que é privilegiada, única e que tem condições edafoclimáticas para fazer vinhos de alta qualidade. Posso salientar duas vantagens em relação a outras regiões que também têm essas condições, é que nós estamos numa região extensa e plana que permite a mecanização e temos um bem que é a água em abundância, que é muito importante na agricultura. Isso permite-nos fazer vinhos de alta qualidade em boa quantidade, e isso é o que nos permite vender vinhos tão bons ou melhores que os outros a metade do preço dos outros.

O que é que diferencia os vinhos de Pegões dos outros vinhos?

A grande diferença é a relação preço-qualidade, mas não só, porque constantemente no mundo fazem provas cegas e é raro a gente não ganhar, portanto se calhar apesar do bom preço que temos são vinhos melhores que os outros. E quem diz não somos nós, são pessoas que os provam aqui e em todo o lado. Se as uvas não fossem boas eu não fazia milagres, tem que haver bons fatores e nós temos tudo: boa vinicultura, bons vinicultores, bom clima, bom solo, e outra vantagem que não falei, nós estamos perto do mar e nos dias de Verão, o calor faz falta, mas em excesso é mau e isso é outra boa coisa que temos aqui, o facto de estarmos perto do mar.

Adega de Pegões

Qual é a aposta que fizeram para o enoturismo, que é um sector que estava em crescimento antes da pandemia de COVID-19?

Boa pergunta, nós já tínhamos uma sala para o enoturismo, tínhamos visitas guiadas com marcações, tínhamos provas de vinho, recebíamos pessoas praticamente todos os dias aqui. Aliás, tínhamos um projeto feito para ampliar a sala de provas e pôr uma sala de troféus, mas veio a COVID e parou tudo. Neste momento estamos em standby e enquanto houver COVID não há investimentos, a Adega parou nesse investimento. Mas nunca será o foco de Pegões ser um grande ponto de enoturismo. Temos História para dar e vender e toda a gente devia conhecer a história do Colonato de Pegões. É um ponto turístico pequeno, mas nunca será o nosso forte porque somos uma empresa 100% comercial, agora que temos história temos e queremos aproveitá-la, mas só podemos investir e crescer quando houveram soluções para a pandemia.

Num mundo pós-covid tenciona retomar a atividade em torno do enoturismo?

Toda a gente está à espera do mundo pós-covid, e o mundo pós-covid terá três possíveis vertentes. Numa muita gente ficou assustada e as viagens e negócios vão-se movimentar menos, na segunda, vão todos sair feitos malucos e ninguém vai parar em lado nenhum, vão gastar o dinheiro que não conseguiram gastar ou então temos a terceira hipótese, que é o intermédio, volta tudo ao normal e o turismo volta a ter a força que tinha. Há duas coisas essenciais no turismo, uma grande história e a proximidade, porque estamos a 30 minutos de Lisboa. O aeroporto do Montijo iria aumentar bastante a atividade e ia ser uma grande ajuda. Respondendo à questão, vamos investir, mas temos esperar que isto passe.

Adega de Pegões

Como é ganhar tantas medalhas? O que muda?

O que muda é que há 20 anos ninguém falava de Pegões e agora toda a gente conhece Pegões, passámos de ser uma pequena adega para ser a maior adega do país, o que muda é que esta região que não era conhecida agora é, ligam logo Pegões à Adega e ao vinho, e foram as medalhas que nos trouxeram a fama.

O Dr. Jaime começou a trabalhar na Adega em 1994. O que mudou ao longo destes 26 anos?

Tudo, quando vim para cá nem computador havia, nós tínhamos uma secretária que era a Guilhermina e fazia tudo na máquina de escrever, quando comprámos os computadores ela fez uma guerra porque não queria os computadores, dizia que davam cabo da vista e queria meter umas palas no computador porque fazia mal à vista. Para ela se desabituar da máquina nós tirámos os botões das teclas para ver se ela se picava e desistia, mas ela sabia o sítio. A mudança foi tão grande, eu lembro-me de na altura quando não havia os telemóveis, eu estava na Adega lá em cima e a Guilhermina gritava dos escritórios “Ó Jaime olha o telefone”, portanto o telefone mudou o mundo, a evolução foi enorme. Neste momento, a Adega é o principal suporte económico e agrícola desta região. Evoluiu num sentido positivo, as instalações cresceram, as vinhas cresceram e a Adega cresceu.

E quantos funcionários têm neste momento?

Efetivos são perto de 70 mas em permanência temos cerca de 90.

Adega de Pegões

O vinho Adega de Pegões Syrah, é um vinho muito premiado, o que o torna especial?

É uma casta muito boa que se dá muito bem aqui, os maiores prémios o Syrah vence, é muito vendido, as pessoas gostam é um vinho do mundo. É interessante porque não é uma casta nossa, mas dá-se muito bem aqui. É muito procurado.

Sentem que os estrangeiros aderem bem aos vinhos, que compram? Também têm vendido muito a nível internacional, não é?

Sabe que a gente temos experiência e isso vale muito, só para a Polónia vão cerca de 500.000 garrafas. Diziam-nos que para exportar teria que ser vinhos de castas portuguesas, mas nós exportámos o Syrah e tem corrido muito bem. Os estrangeiros compram o que é bom e o que gostam e o Syrah é o eleito, se eles gostam deste vinho é o que vendemos. Quem manda é quem compra e eles é que sabem o que compram, nós temos sempre o que o cliente gosta porque é ele quem decide.

Começaram a produção do moscatel em 2010 e em 2016 já eram a adega que mais vendia Moscatel, sendo que ganhou o prémio de melhor moscatel do mundo. O que o distingue dos outros?

Nós fizemos um em 1998/1999 e em 2000 lançaram uma lei que nos proibiu de produzir moscatel durante 10 anos. O segredo para fazer o moscatel são as uvas e nós temos as melhores. Nós que não temos história de fazer moscatel como outras casas mas fomos a concurso e ganhámos o melhor moscatel do mundo que se calhar ainda ninguém ganhou aqui.

Quais são as vantagens que sentem que têm face à concorrência?

Tantas, a região com mais futuro do país é esta. Temos grandes áreas, jovens agricultores formados e a quererem crescer, água, clima adequado à produção de uvas que melhor não há, portanto, nós temos tudo para fazer este negócio e estamos cada vez maiores. O futuro está aqui em Pegões.

Syrah e Fontanário de Pegões

Qual é o vinho que recomenda mesmo que se prove?

O vinho Fontanário de Pegões Vinhas Velhas, que cada vez há menos, com vinhas que têm mais de 50 anos, é uma coisa à moda antiga, é um vinho que faz lembrar o sabor de antigamente e essas coisas têm que ser provadas para não perdermos a tradição e a História. Mas não é economicamente rentável porque a vinha velha tem que ser toda feita à mão, o que o encarece. As pessoas compram o que gostam ao preço que podem comprar.

Quais são os produtos que a Adega tem para venda neste momento?

Todos os anos criamos produtos e tentamos manter a linha de Pegões e vamos criando novidades, temos um Pinot qualquer dia, tentamos sempre enriquecer o nosso leque.

Quais são os planos para o futuro?

Trabalhar e crescer. Todos os anos criamos e investimos, este ano tínhamos o projeto do enoturismo mas por causa do COVID arranjámos outro projeto, vamos ampliar a vinificação e a produção. Daqui por um ano ou dois se calhar voltamos ao enoturismo, sempre com a finalidade de ficarmos mais competitivos, mais modernos e mais capazes para servir melhor o nosso consumidor que é o nosso ponto principal, se não servirmos bem o nosso cliente não serve de nada o que fazemos aqui.

O que mudou com a pandemia?

Já saiu o primeiro semestre e o mercado português de vinhos caiu 23,9% em valor e 11% em volume, portanto caiu, as pessoas beberam menos e há menos 1 milhão ou 2 de pessoas em Portugal, os turistas já não estão cá para beber e comer. Houve uma quebra de quase um quarto do mercado. Nós caímos muito pouco, nem 4%, é sinal que crescemos perante a concorrência.

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