Andreia Serrão: “É através da poesia que me expresso melhor”

Andreia Serrão tem 19 anos é campeã de judo e tem um percurso de destaque nesta modalidade, sempre ao serviço do Clube Judo Montijo. Este ano a jovem montijense embarcou numa nova aventura e publicou o primeiro livro de poesia: “Perdida em Emoções – Poemas de uma Adolescente”.

Em conversa com o Montijo On City, Andreia fala sobre esta conquista e o realizar de um sonho. É através deste livro que a jovem partilha as suas emoções, amores, desamores e as vivências do período de vida mais conturbado, a adolescência.

No dia 5 de dezembro lançaste o teu primeiro livro. Quando é que a escrita entrou na tua vida?

Comecei a escrever desde muito nova. Em criança fiz um livrinho com as minhas colegas do terceiro ano, pegámos num livro que eu adorava e começamos a fazer a continuação, elas desenhavam e eu escrevia, foi aí que começou.

No 9º ano comecei a escrever um livro de ficção científica, não foi para a frente, foi mais para experimentar, tinha essa ideia de um dia escrever um livro. No 11º ano comecei a escrever poemas, precisava de algo rápido, os poemas eram diretos e focavam logo no ponto, eram folhas soltas que colocava dentro de uma caixa de sapatos. Um dia a minha avó contou-me a história de um amigo que também escrevia e que tinha tudo em papel e perdeu, ela aconselhou-me a passar tudo para o computador e foi isso que fiz.

Comecei a ver uma história a surgir, era a minha história desse ano e comecei a perceber que queria fazer esse livro e realizar esse sonho. Decidi começar a escrever por temas e por ordem cronológica e surgiu um esboço do livro, mas não foi para a frente porque não tive coragem na altura e também era um investimento para os meus pais.

O 12º ano foi uma fase complicada para mim, era do curso de Ciências e Tecnologias e queria ir para Artes Visuais, acabei por ficar em Ciências pela pressão. Com o judo ganhei o alto rendimento que me permitiu na faculdade escolher o curso que queria realmente que era Conservação e Restauro.

Fala-me um bocadinho sobre o “Perdida em Emoções”

O livro está divido por temas. O primeiro capítulo chama-se “Eu” e os poemas falam do que quero fazer, do que gosto e não gosto, o que me puxa para trás …

O capítulo seguinte é a “Tristeza” porque começam a surgir problemas na minha vida escolar e no judo e começo a ficar muito negativa, sentia a pressão a aumentar e neste capítulo é evidente esse desequilíbrio emocional. Na “Guerra” sou eu a confrontar-me com esses problemas. Na “Paz de Espírito” escrevo sobre viagens, passeios que fiz com a minha família ou com o judo, sobre sair da minha rotina fixa, ficar mais relaxada e conhecer um mundo novo. Nas “Histórias de amor” sou inspirada por filmes e livros que li, estava muito presa no 11º ano ao meu romance e drama pessoal, então no 12º ano tentei focar em histórias de outras pessoas e escrever sobre isso.

“Passei de folhas amachucadas, para o computador e depois para o livro em si. Quando vi o livro apeteceu-me chorar”

Como surgiu a coragem para publicar este livro?

No 11º ano não tinha a coragem, era só um sonho e uma ideia. No 12º ano surgiu este livro e falei com a minha mãe para o publicar porque sabia que não era a única a sentir o que aqui retrato. A minha melhor amiga, por exemplo, estava no mesmo barco que eu, enviava-lhe os poemas e ela sentia-se melhor ao ler. Pensei que se isso acontecia com ela também podia acontecer com outras pessoas. Foi devido a um empurrão da minha melhor amiga e da minha mãe que consegui não só passar os poemas para o computador, mas também fazer todas as ilustrações.

Como foi esse processo de publicação?

Em março comecei à procura de editoras, recebi uma resposta rápida de duas. A minha editora rapidamente enviou o contrato, pediu-me uma sinopse e conversámos sobre a capa e as ilustrações, quis manter o que tinha porque queria que o livro fosse totalmente meu.

Durante a quarentena o processo ficou meio parado, tinha de ser marcado um lançamento antes de começarem com as impressões. Em outubro falei com o presidente da Câmara Municipal do Montijo para arranjar um lugar para a apresentação e a Câmara cedeu a Galeria Municipal. Na quinta-feira antes do lançamento fui buscar os livros e foi uma sensação incrível, foi o culminar de todo o processo. Passei de folhas amachucadas, para o computador e depois para o livro em si. Quando vi o livro apeteceu-me chorar.

Para ti este livro é o encerrar de um capítulo ou de uma fase da tua vida?

Não. Este livro é o meio de uma trilogia. Tenho o livro sobre o 11º ano que agora sim vou publicar, depois tenho a segunda parte do 12º ano porque este é o início, e a faculdade. Este último ainda não terminei, quero um final diferente.

O próximo a ser publicado será o do 11º ano e depois, mais para a frente e se tudo correr bem, seguem os outros.

Será sempre poesia?

Sim, a trilogia são poemas. Um dia se calhar volto para a minha tentativa de escrever um livro de ficção, mas por agora é através da poesia que me expresso melhor.

A tua família acompanhou o processo, mas qual foi a reação dos teus amigos quando surge este livro?

Só a minha melhor amiga é que sabia. O resto dos amigos tinham ideia porque eu falava muito sobre isto, mas acho que nunca acreditaram até os ter convidado para o lançamento. O meu mestre do judo, por exemplo, só descobriu na semana do lançamento. As reações foram as melhores, adorei.

Os professores também acompanharam todo o processo. A minha professora de português colocava sempre textos de opinião nos testes e eu não conseguia dar a minha opinião sem ser em poema. Escrevia o texto, mas achava sempre que não ia ter grande nota. Um dia perguntei se podia escrever um poema depois do texto e a professora disse que sim e eu escrevi, está no livro até. A partir daí a professora começou a acompanhar e a informar-me de concursos.

Falando em concursos, participaste em vários?

Participei no concurso da escola que acabei por ganhar e no concurso da editora Viera da Silva, foi assim que os conheci. Participei em mais em toda a região também. Os poemas que levo a concurso estão de parte, são poemas em que confio muito e quero tentar mais vezes.

“Gosto muito da competição, sou outra pessoa, não sou calma, mudo completamente”

Tens um percurso de destaque na área desportiva, tanto a nível nacional como internacional. Como surgiu o interesse no judo?

A minha mãe era atleta de alta competição. Eu andava na natação e decidi que gostava de experimentar outro desporto, fui ao pavilhão municipal com a minha mãe e quando olhei para a lista o judo saltou logo à vista, era um tema comum na minha família. O meu avô falava da minha mãe fazer competições, tinha em casa as medalhas dela e fiquei com curiosidade.

No primeiro dia que fui para o judo a minha irmã também veio, no dia seguinte veio a minha mãe e o meu pai, acabou por vir a família toda. Já são nove ou dez anos de judo, faço com a minha irmã, ela é minha parceira. É outra parte de mim, às vezes faço como se fosse trabalho porque agora também dou aulas às crianças e gosto bastante. Gosto muito da competição, sou outra pessoa, não sou calma, mudo completamente.

Este livro retrata todas essas facetas?

Sim, completamente, é uma mistura.

No teu livro dizes que um dos objetivos é visitar várias escolas e falar com os alunos sobre os temas abordados. Isso já aconteceu?

Na quarta-feira passada fui à minha escola, à Secundária Poeta Joaquim Serra. Foi a primeira vez que fiz uma apresentação para os jovens, estava bastante nervosa, foram duas sessões. Comecei a falar sobre o livro e pedi para os alunos fazerem perguntas. Falei sobre todo o meu percurso escolar e da faculdade.

Quando andava no secundário era importante ouvir o percurso académico de outros alunos, como tinham feito a escolha do curso, como foram os exames, como era a vida académica e até as praxes, ouvir essas vivências ajudou-me bastante. Como este livro fala sobre o 12º ano e o quanto estava perdida nessa altura, pensei que poderia ser um bom meio para ir às escolas e fazer o que tinham feito comigo, contar o meu ponto de vista, partilhar as minhas decisões e tentar ajudar.

A nível da poesia, quem são as tuas inspirações?

Adorei ler Os Lusíadas, tinha a história de Portugal. Gostei muito da Mensagem de Fernando Pessoa também. Gosto muito de procurar rimas e palavras diferentes.

Para o futuro os objetivos são?

Continuar a escrever, terminar o curso, tentar ir o mais longe possível com a competição do judo e viver a minha vida.

Estou muito orgulhosa deste livro e estou ansiosa para publicar o próximo. O “Perdida em Emoções” tem no final um spoiler sobre o que será o próximo livro que já está terminado.

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