Dr. Jorge Rocha: “Eu tornei-me veterinário por causa dos pássaros”

A clínica médico veterinária Vetin-Zone encontra-se na Jardia, mais precisamente no quilómetro 2.2 da Estrada Nacional 252. Após ouvir diversos elogios à clínica e ao seu serviço de urgências, quisemos conhecer a história por detrás do surgimento da Vetin-Zone.
Para isso entrevistámos o dono e alma do negócio, o Dr. Jorge Rocha, veterinário, apaixonado por aves, com mais de vinte anos de experiência:

Quando é que a clinica Vetin-Zone abriu?

Mais ou menos há dezassete anos atrás. Antes disso tive um consultório pequenino no Pinhal Novo…tinha menos condições, menos espaço depois viemos para aqui. Houve uma altura em que mantivemos as duas clínicas a pensar nos clientes mais idosos com menos mobilidade mas ao fim de dois anos acabei por fechar a clínica do Pinhal Novo.

Mas aqui trabalham outros doutores para além do senhor?

Sim, temos o doutor Bruno Oliveira que faz ortopedia e a doutora Silva Gregório que também faz aqui consultas. Já tivemos mais mas quem está aqui sempre a atender sou eu.

Porque é que decidiu abrir uma clínica veterinária na Jardia?

Na altura no Pinhal Novo não havia mais nenhuma clínica veterinária, apenas uma que abria e fechada constantemente. Para além disso, não havia mais ninguém a fazer urgências na margem Sul… só mesmo o hospital veterinário da Costa da Caparica, isto há vinte anos. O espaço no Pinhal Novo era muito pequeno e não dava para aumentar. Apareceu este espaço, muito maior, na Jardia. Então como não era demasiado longe do Pinhal Novo, apenas quatro quilómetros de distância, decidi mudar sem correr o risco de perder a clientela que já tinha.

Qual é a sua relação com o concelho do Montijo?

É profissional visto que trabalho aqui na Jardia. Antes vivia em Setúbal mas agora resido no Pinhal Novo (Palmela).

Como surge a paixão por cuidar os animais?

Desde pequenino…eu gostava especialmente de aves, aliás ainda gosto! Eu tornei-me veterinário por causa dos pássaros depois quando tirei o curso já comecei a fazer outras coisas mas a paixão básica era mesmo por aves.

Na sua clínica também tratam animais exóticos?

Sim, também. Contudo, a minha especialização é em clínica de cavalos e pequenos animais. O problema é que em Portugal o cavalo não é um animal considerado e valorizado como em Inglaterra. Por exemplo, em Inglaterra quando um potro nasce dum cavalo campeão automaticamente vale logo 200-300 mil euros. Aqui vamos a uma coudelaria e 50% dos animais são enviados para abate…tinha a pata torta, tinha isto, tinha aquilo. Desparasitação, não desparasitam… aquilo é do mais barato que há por isso chega um momento uma pessoa desmotiva. Não é só em Inglaterra que é diferente basta ir a Espanha, Alemanha ou Irlanda. Quando fazia só clínica de cavalos havia uma grande luta para começarmos a ter corridas de cavalos para movimentar dinheiro mas isso nunca chegou a acontecer. Só o lazer é insuficiente. Há indivíduos que gostam de cavalos mas a maioria não tratam deles devidamente. Tratar um cavalo é dispendioso e é difícil. Se houvesse uma fiscalização, 90% eram impedidos de ter os animais assim. Se um cliente meu tiver um cavalo, para além de cães ou gatos, eu não me importo de tratar mas procurar proactivamente novos clientes e só fazer clínica de cavalos, já não faço.

O doutor é uma pessoa mais de cães ou de gatos?

É a mesma coisa. Em casa temos gatos, cães e pássaros mas são mais da minha mulher e dos meus filhos.

Qual é a importância de vacinar e desparasitar o nosso animal de estimação?

Então vou contar uma história para explicar isso… quando eu comecei a fazer consultas no Montijo eu lembro-me que em Março apanhei 60 casos de parvovirose canina (CPV). Nesta rua, os cachorros todos apanharam parvovirose isto porque as mães não estavam vacinadas. Hoje em dia diminuiu bastante – uma vez por mês, dois em dois meses diagnostico um caso. As vacinas são importantes porque a taxa de mortalidade da parvovirose é muito elevada, pode ascender a 91% dos casos tratados. Vou-lhe dar outro exemplo… eu trabalhei em África, tive lá uma clínica. Em África a taxa de parvovirose é de 10 a 20 casos por dia porque lá não vacinam nada. É muito importante. De vez em quando fazemos campanhas de vacinação o que torna o preço irrisório.

Aconselha a quem pensa ter um cão como animal de estimação pesquisar primeiro sobre a personalidade e necessidades do cão para perceber se são compatíveis com o seu estilo de vida?

Antes disso tudo, a pessoa tem que fazer uma análise honesta consigo para verificar se tem tempo e paciência para ter um animal de estimação. Da experiência que eu tenho depois de ter vacinado milhares de animais, o que custa menos é adquirir mesmo por valores altos. O problema é depois cuidar do animal, alimentação, levar ao veterinário… é preciso ter tempo, capacidade, pensar no espaço onde o animal vai estar e ter consciência do seu tempo de vida. A pessoa tem que querer mesmo. Só depois disso é que vou escolher segundo as características do animal e as condições que lhe posso dar não porque gosto da aparência do cão.

Ouvi dizer que o seu filho está a seguir os seus passos. É verdade?

Não é. Parece que nenhum dos meus filhos vai seguir esta profissão. Ser veterinário é difícil.

Recomenda alguma marca de alimentação?

Eu não sou muito fundamentalista em relação às marcas mas é importante que a marca seja de qualidade média alta ou alta, especialmente, nos primeiros anos de vida do animal para evitar futuras complicações depois em adulto. Quanto maior o porte do animal mais se deve investir na qualidade da sua alimentação.

Acha que é preciso alguma vocação especial para ser veterinário ou basta dedicação e amor aos animais?

Veterinário não quer dizer que faça clínica… há veterinários que fazem investigação, inspeção, há veterinários que trabalham em empresas de alimentação para animais. Dos finalistas do meu ano, nós eramos cem se tiverem dez a exercer clínica é muito! Esta profissão implica um cansaço mental brutal. Em termos mundiais, a maior taxa de suicídios no mundo da medicina é a dos veterinários. As pessoas não têm noção da dificuldade que é ver um animal morrer. Não é mais um! Eu lembro-me mais dos que morreram dos que curei. Muitos jovens saem das faculdades todos entusiasmados para fazer clínica mas ao fim de um ano tentam logo mudar. Não é para qualquer um porque é necessário entrega.

Lembra-se de alguma história emocionante de recuperação de um animal que tivesse sido curado por si na Vetin-Zone?

Tive aqui um cachorro com um quilo que comeu imensa terra. Tivemos que abrir quase um metro de intestino… as perspetivas de sobrevivência eram muito baixas mas afinal ele viveu durante quinze anos.

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