Loja Simões: A antiga loja de tecidos que se reinventou
A loja de José Simões é uma antiga loja de tecidos no Montijo, situada na Rua Machado dos Santos, perto do Hospital, e faz parte dos espaços de comércio local mais antigos da cidade.
José Simões não sabe exactamente há quantos anos existe o espaço, que hoje é seu, mas conta-nos que quando chegou do Alentejo com 11 anos, ele já existia. Começou como empregado, “quando vim para cá, a loja já existia há alguns anos, e depois estive cá com o meu patrão e um sobrinho e depois fui gerente. Agora há 20 anos que sou o proprietário.” Pelas suas contas há pelo menos 50 anos que trabalha nesta loja.
Quando surgiu a oportunidade, tornou-se proprietário do espaço, como nos contou, “há alturas em que não há escolha e temos que ir em frente. Agora está a minha nora à frente da loja, e eu estou reformado.”
Hoje a loja já não vende mais tecidos, José Simões diz que, “antigamente vendia muito tecido, mas a pouco e pouco, fomos acabando com isso”. A loja continua na família, mas teve que mudar o foco do negócio “para a minha nora ficar com isto, uma vez que trabalhar com tecidos é muito complicado, e deixou de se vender”, afirma.
Para José a mudança dos tempos fez-se sentir até na forma em como lida com os seus clientes, recorda que, “antigamente um comerciante era olhado como uma pessoa estimada. Antigamente as pessoas que tinham as reformas e não sabiam ler, vinham aqui pôr o carimbo para receber a reforma. Um comerciante tinha crédito, hoje não, o comerciante é uma pessoa vulgar”.
Têm sido anos difíceis para a loja Simões, como nos conta, “de há alguns anos para cá isto complicou-se muito, várias crises que a gente passa e às vezes não é fácil.”
Quando perguntamos o porquê de tantas dificuldades, José Simões diz-nos que na sua opinião é devido às “mudanças de comércio, muitos fóruns, muitos supermercados. As pessoas já não fazem as compras na nossa loja, habituam-se a ir a outro tipo de comércio. E o Montijo morreu um bocadinho. O centro histórico de alguns anos para cá tem morrido, não há lojas que puxem clientela, não temos aqui lojas de marca, não temos nada, e então não é fácil. Só aquela clientela que nos conhece, e que já é pouca e cada vez menos. Não é fácil sobreviver. E adquirir novos clientes não é fácil”.
Apesar das dificuldades que vai sentindo, diz-nos que os produtos que mais vende são os “interiores, pijamas, robes, e nesta altura seriam os bibes e as batas, mas acho que as escolas não estão a exigir que comprem os bibes”.
Sobre a pandemia que obrigou o comércio a fechar portas durante três meses, e que tantas dificuldades trouxe aos negócios, a recente reabertura ajudou mas o comércio local está longe da retoma, – “o negócio está parado, mas é geral”.