N’Adega do Ti Martinho: legado familiar chegou à cozinha no Montijo

É Sílvia Mocho, filha de Júlio com o mesmo nome e fundador da Adega Ti Martinho, quem nos vai receber à porta. Sob uma atmosfera acolhedora, salpicada de artefactos típicos pendurados nas enfeitadas paredes acastanhadas, a atual dona do restaurante começa por explicar ao Montijo On City a origem deste espaço. “Foi há dez anos que o meu pai decidiu fundar esta casa. A partir de duas garagens, isto era – perdão, ainda é! – um edifício senhorial. Não tinha qualquer aptidão comercial.”

Para além de mentor da ideia, Júlio Mocho foi também o encarregado da construção deste estabelecimento cujo conceito recria uma adega, ou não estivessem uma série de enormes barris alinhados na parede da sala por onde entrámos. “O meu pai sempre gostou deste tipo de ambientes e, inicialmente, criou esta casa para acolher os amigos, funcionando quase como uma tertúlia que, ao longo do tempo, se tornou num restaurante.” Em 2012, consumou-se a evolução lógica, com a abertura de uma segunda sala.

Desde o falecimento de Júlio, há dois anos, que é Sílvia, engenheira zootécnica de profissão, quem assume as rédeas de um negócio que não é fácil de domar. Apesar de habituada a outras lides, nomeadamente à produção animal, esta incursão pelo mundo da restauração começou de forma sustentada “Ter estado aqui, durante um ano e a tempo inteiro com o meu pai, permitiu-me dar continuidade à relação dele com os clientes habituais, desde os aspetos relacionados com o tipo de comida, até a outras exigências que ele tinha com o espaço”.

E já que falamos em clientes, muitos deles habituais, não podemos ignorar a intuição de Sílvia e do marido, que a acompanha neste negócio, quando se trata de traçar o perfil de palato a quem os visita “Temos clientes que, quando se sentam, nem perguntamos o que querem comer e beber, pois já é um dado adquirido para nós. Com clientes novos ou menos habituais fazemos um estudo de perfil e tentamos perceber os seus gostos – se a carne é bem ou malpassada, o tipo de vinho que procuram, entre outras preferências”.

O nome, Adega Ti Martinho, remonta à tradição “Nós somos a família Mocho que, desde sempre, vive no Montijo. O meu avô Martinho era um ícone do concelho; toda a gente o conhecia e andava com ele a cavalo na charrete. É a terra que nos acolheu e que o meu avô, que teve oito filhos, colonizou e lhe acrescentou história”, conclui.

No que toca aos motivos que trazem até à Adega visitantes dos quatro cantos do concelho e arredores, Sílvia justifica o sucesso com a envolvência vivida em torno de uma refeição de excelência “Somos um restaurante, mas tentamos ao máximo que aqui o ambiente seja o mais familiar possível”. Para comer “temos pratos tradicionais, nomeadamente o bacalhau assado, o polvo à lagareiro, o rabo de boi estufado em vinho tinto e a chanfana; temos, também, as carnes de porco preto, que foi um dos pratos iniciais desta casa.” Assim, conclui que “o objetivo de quem vem não é só jantar ou almoçar, mas ter uma experiência gastronómica”.

E se o primeiro grande impacto de quem visita este espaço são as pipas gigantes enfiadas na parede e distinguidas pela qualidade – do tinto ao branco, sem esquecer os outros tons –, não podemos deixar de referir a “variada gama de vinhos, numa carta selecionada pelos proprietários”, ainda que façam jus aos da região, nomeadamente aos de Setúbal (Quinta do Alcube) e de Azeitão (Quinta de Catralvos). Alentejo e Douro não são esquecidos e completam o cardápio daquilo que tira a sede aos estudiosos da uva.

Tema incontornável da atualidade, não podíamos despedir-nos sem perguntar pelos efeitos da pandemia no negócio que “tomou todos de surpresa”. “Não sabíamos que íamos fechar. Estive três dias a pensar no que ia fazer – se aderia ao layoff, se reduzia o horário dos meus funcionários”. A escolha recaiu na segunda opção, implementando o serviço de Take Away, que se mantém. “Conseguimos dar a volta, apesar do ajuste de alguns preços. Agradeço à minha equipa, porque são pessoas com 60 anos e que se adaptaram.” Esta é, aliás, a chave de uma boa gestão, segundo a própria “Consegui manter os meus compromissos com eles. Não posso dizer que correu mal.”

Contactos

Artigos relacionados

Back to top button