António Santos: “Em cada peça, muitas horas de trabalho”

Na rubrica desta semana, apresentamos António Santos e as suas muitas obras de artesanato que encantam Sarilhos Grandes.

O artesanato é algo que tem vivido dias menos brilhantes com a pandemia, mas para António Santos nada substitui o gosto e o desejo de trabalhar com as suas ferramentas. O seu trabalho começou desde cedo e desde que se lembra que procurou explorar a variedade de materiais que conseguia. Entre madeira e latão, passando até pela esferovite, o artista afirma que o segredo está em “ser criativo todos os dias“.

De forma convidativa, António Santos e a sua esposa conduzem-nos ao espaço que é o seu melhor cantinho guardado. Lá, improvisaram um museu no qual expõem o seu trabalho com todo o cuidado. Existe uma parte destinada ao trabalho de feltros, tecidos e panos, onde os mochos em pano são expostos com tanto carinho. Chamam-lhe “entretenimento da velhice“, mas o sorriso ao contemplarem as suas criações artísticas não esconde o prazer que sentem neste meio.

O gosto por este passatempo não o conseguiram passar ao resto da família, mas o casal de artistas expressa um grande desejo de levar as suas obras até aos mais apreciadores e, quem sabe, conseguir um local fixo para expor os seus trabalhos. Os anos de procura por uma loja já são muitos, mas encontrar uma casa para se fixarem tem sido difícil. É que, embora recorram a feiras artesanais para tentarem encontrar o seu sustento, salientam também o quão difícil e trabalhoso é “transportar este material tão pesado e que facilmente se estraga na viagem“.

Primam sempre por apresentarem peças originais, criativas e novas; é assim que procuram atrair novos clientes e trazer mais conhecimento às suas obras. Afirmam que “o português se interessa pelo artesanato“, mas poucas têm sido as oportunidades de fazer reconhecido o trabalho do casal. Com a confiança depositada por clientes fixos e com as aparições que vão fazendo nas feiras nacionais e municipais, têm encontrado o seu conforto que “nunca será muito“.

Para ambos, o maior obstáculo que enfrentam é claro. “O grande problema do artesanato nos dias de hoje é a concorrência chinesa e as pessoas não sabem dar valor à diferença entre qualidade e preço“, destaca o artista.

Por enquanto, permanecem nas oficinas localizadas nas traseiras da casa do artista, em Sarilhos Grandes. Outrora foram terrenos idealizados para outros sonhos. António Santos revela o desejo que sempre teve de construir uma pista de radiomodelismo na sua casa e lá “marcar a diferença a nível nacional, ser o melhor“.

Eu queria fazer uma pista que permitisse às crianças aprenderem este meio de forma didática. Era uma boa iniciativa porque lhes colocava em contacto com a mecânica e com outros meios que são importantes na vida comum. Tinha outra área pensada só para artesãos estarem a trabalhar. Era uma forma de terem um espaço de trabalho e que permitisse também a visita de escolas e de crianças para terem contacto com esta arte“, destaca com firmeza no seu discurso.

Uma caminhada por um espaço tão grande e desocupado levam-nos a refletir sobre os benefícios que poderia ter resultado para o município. Os seus olhos enchem-se de nostalgia quando relembra aquele que teria sido o projeto da sua vida. Estava tudo imaginado: “um local que convidasse todos aqueles que desejassem divertir-se e, em simultâneo, contactar com diferentes artesãos e com os seus trabalhos”.

Perto da sua oficina, com portas abertas e luz mais escondida, um grande tronco faz-se representar pela sua beleza e estrutura. Rapidamente, o artista nos diz com um grande sorriso nos lábios que aquele seria o seu próximo projeto: “um trono para os motards“. Com o telemóvel na mão, vai mostrando fotografias de trabalhos seus antigos. Terrinas em telha, bancadas em madeira e candeeiros em latão são algumas das peças que enfeitam com magia a cidade do Montijo em alguns estabelecimentos.

Mas não poderíamos deixar de notar a beleza das peças que se fazem representar com tanta beleza e dedicação no interior da oficina. Um bar improvisado em tronco de madeira, um espelho todo envolto em madeira trabalhada e até uma mesa com luzes led no seu interior são apenas algumas peças de maior porte que o artista tem trabalhado e explorado com afinco.

Uma das suas últimas obras, trabalhadas ao pormenor

O sapato em esferovite também é uma das suas “muitas artes”; algo que começou como mero desafio, mas que enfeita, hoje, as ruas de Olhão. O que começara com inspiração de um prédio londrino, tornou-se num dos trabalhos que é uma das suas imagens de marca.

Em cada peça sua, António Santos despende de “muitas horas de trabalho” e embora seja prazeroso, não esconde a desmotivação que sente ao relembrar também os dias mais negativos vividos durante a pandemia. “Cheguei a parar ou tentava entreter-me com coisas que demoravam imenso tempo, porque não havia espaço para guardar mais coisas. As peças não se vendiam“, sublinha.

Os anos já começam a pesar e, rapidamente, António Santos realça que “tem que se reduzir a quantidade de materiais com que trabalho“, mas que continua a ambicionar “levar os meus trabalhos aos que querem conhecer.”

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