Luís Sapateiro: Uma arte com os dias contados
Luís, o sapateiro, é o protagonista desta semana da rubrica que evoca as profissões tradicionais do Montijo.
Ao longo dos últimos anos, profissões que considerávamos essenciais para o bom funcionamento da sociedade foram ou estão a ser ultrapassadas por outras que dão resposta a novas necessidades. As artes e ofícios tradicionais já fazem parte do passado e, são cada vez menos, os que se sustentam deste ramo. No princípio do século, existiam 30 sapateiros no Montijo, mas a realidade vivida atualmente é muito diferente.
Luís Godinho, de 40 anos, é um dos sapateiros mais novos da cidade que veio parar ao meio “por acaso”. Nunca se imaginou a consertar sapatos e, muito menos, a gerir uma loja sua no primeiro Centro Comercial do Montijo, mas a verdade é que já o faz há oito anos e tem gosto por esta profissão que diz ser “uma arte”.
Fazer sapatos já não faz parte das suas tarefas, embora tenha gosto em afirmar que se considera um sapateiro artesão. “Existem dois tipos de sapateiros: os industriais que fazem pequenas reparações e os artesãos que conseguem fazer artigos de raiz“, conta. A sua especialidade é trabalhar com a pele e consegue aplicá-la em quase todos os materiais. “Tenho clientes que me pedem para fazer carteiras, cintos, malas, mas o que vendo mais são as garrafas revestidas em pele (…) Estas garrafas, envio-as para o estrangeiro“, explica orgulhoso.
O trabalho é minucioso e requer tempo e criatividade e é isso que diverte o sapateiro. “Não é algo repetitivo. O cliente chega ao pé de si e desafia-o a fazer coisas imaginárias. Todos os dias temos uma coisa diferente para fazer e é um trabalho que não enjoa“, comenta satisfeito, enquanto remata uma costura na ajuntadeira.
Embora se sinta realizado, o negócio não corre tão bem como gostaria e não deixa de lamentar que “as pessoas, hoje em dia, não dão muito valor a este tipo de trabalho (…) é algo que vejo que já não faz falta à sociedade, apenas a uma minoria”. O crescimento da indústria do calçado tornou o preço pago por um par de sapatos muito mais acessível e passou o trabalho dos sapateiros para segundo plano.
Se não fosse a publicidade feita nas redes sociais, Luís Godinho acredita que poucos teriam conhecimento dos artigos originais que faz e a luta contra as despesas teria um vencedor evidente. “Nesta área não temos rendimento quase nenhum. Para pagar os 160€ de renda da loja tenho de trabalhar 15 dias intensivos. Há um dia que posso faturar bem e o resto da semana posso estar sem faturar. É muito incerto, mas as despesas são sempre certas. Temos sempre a renda, a luz e o pagamento aos fornecedores das peles, que nunca é menos de 200 ou 300 euros.”, desabafa.
O cenário entristece profissionais, mas também milhares de fregueses que, ao longo da vida, foram calçados por estes homens do ofício.