Avenida Garcia de Orta: o médico pioneiro de Portugal
A avenida Garcia de Orta homenageia o médico judeu português que foi também autor pioneiro de áreas como farmacologia, antropologia, botânica e medicina tropical.

Garcia de Orta nasceu em Castelo de Vide, por volta de 1500. Filho do mercador Fernando (Isaac) de Orta e de Leonor Gomes, viveu a sua infância nesta vila portuguesa com a sua família de origem judia, por consequência da expulsão dos judeus espanhóis em 1495. Os seus estudos foram tirados nas Universidades de Salamanca e Alcalá, ambas espanholas, nas quais se formou em Gramática, Artes, Filosofia Natural e Medicina, por volta de 1523.
Nesse mesmo ano, regressa para Castelo de Vide para praticar medicina clínica. Em 1526, obteve a licença para exercer medicina e mudou-se para Lisboa. Na capital, tornou-se médico pessoal de D. João III e teve ainda a oportunidade de conviver por perto com o matemático Pedro Nunes. Começou a lecionar filosofia natural em palestras da Universidade de Lisboa e, em 1533, ocupou o cargo de professor desta unidade curricular.
A 12 de maio de 1534, embarcou para a Índia como médico pessoal de Martim Afonso de Sousa, que era, à data, capitão-mor do mar da Índia (1534 a 1538) e veio a ser, posteriormente, governador (1542 a 1545). Após quatro anos ao serviço do seu patrono, Garcia de Orta estabeleceu-se como médico em Goa, na qual obteve grande reputação. Também aqui, convivei de perto com nomes célebres como Luís de Camões.
Devido ao seu serviço ao Vice-Rei, foi-lhe dado o foro da cidade de Bombaim, que se encontrava sob domínio português à época. Em 1541, casou com Brianda de Sollis, uma rica herdeira com quem teve várias filhas e mesmo com o regresso de Martim Afonso de Sousa, permaneceu na Índia enquanto exercia medicina.
Foi considerado um médico muito conceituado em Goa, praticando medicina no Hospital e na Prisão. Foi também médico pessoal de figuras importantes a nível sociopolítico de nomes como o sultão de Ahmadnagar, exercendo ainda comércio e outras atividades lucrativas. Era nestas atividades lucrativas que Goa contactava com diferentes nacionalidades e religiões.

A obra que perpetuou o seu nome foi o livro Colóquio dos simples e drogas e coisas medicinais da Índia, editado em Goa no ano de 1563. Este é um livro escrito em português e que constitui uma conversa entre Orta e Ruano, um médico recém-chegado a Goa. A sua obra constituiu-se como pioneira na forma como aborda a botânica e a farmacologia, bem como o uso de plantas com características botânicas para a medicina tropical.
Garcia de Orta viria a falecer em Goa, no ano de 1568. O seu trabalho em prol da justiça e do desenvolvimento levou-o a implementar um tribunal na Índia em 1565. Contudo, após a sua morte, a Inquisição iniciou uma perseguição e captura feroz à sua família. A sua irmã Catarina foi queimada viva num auto de fé, em 1569. A perseguição culminou com a exumação da Sé de Goa dos restos mortais do médico para, posteriormente, serem condenados à fogueira pelo judaísmo.
A sua obra foi adaptada posteriormente para latim por um médico e botânico, de nome Charles de l’Escluse. A edição latina, intitulada de Aromatum et Simplicium aliquot medicamentorum apud Indios nascentium historia ante biennium quidem Lusitanica língua… conscripta, D. Garcia ab Horto auctore (1567), teve uma grande procura e difusão pela Europa. Também o médico português Cristóvão da Costa, publicou uma readaptação em castelhano, intitulada de Tractado de las drogas y medicinas de las Indias Orientales (1578).
Por todo o país, Garcia da Orta é relembrado pelos seus feitos pioneiros na medicina e conta com homenagens significativas a nível nacional. O seu nome é apregoado em lugares como a Escola Secundária Garcia de Orta, no Porto, ou o Hospital Garcia da Orta, em Almada. Em 1998, foi construído o Jardim Garcia d’Orta (Lisboa), no qual diferentes passagens dos portugueses pelo mundo é representada com plantas, sobretudo tropicais.