Rua Fernando Lopes-Graça: um marco na história da música portuguesa
Fernando Lopes Graça ficou conhecido como um dos maiores exemplos na composição e musicalidade portuguesa do século XX. O seu nome é homenageado em várias ruas, inclusive no Montijo.

Fernando Lopes-Graça nasceu a 17 de dezembro de 1906, em Tomar e com apenas 14 anos, começou a trabalhar enquanto pianista no Cine-Teatro de Tomar. O seu gosto pelo criativo, levava-o a apresentar os seus próprios arranjos musicais de temas provenientes de Debussy e outros compositores russos.
Em 1923, inicia os seus estudos no Curso Superior do Conservatório de Lisboa e é em 1927 que integra a Classe Virtuosa, tendo como um dos professores, o mestre Vianna da Motta (antigo aluno de Liszt), considerado um dos maiores pianistas portugueses de todo o tempo. Em 1928, frequentou o curso de Ciências Históricas e Filosóficas na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, vindo a abandoná-lo em 1931.
Regressando a Tomar, Fernando Lopes-Graça funda o semanário republicano A Acção. Os seus anos foram seguidos por uma série de episódios nos quais enfrentou muitas adversidades. É preso pela polícia política, em 1931, após ter concluído as provas para Professor de Solfejo e Piano do Conservatório Nacional. Esta viria a ser apenas a primeira das vezes que seria preso, uma vez que, novamente em 1934, vê a oportunidade de estudar música em Paris anulada pela polícia política.
Em setembro de 1935 é novamente preso e enviado, desta vez, para o Forte de Caxias. Pouco tempo depois, é libertado e parte, em 1937, para França a fim de estudar Composição e Orquestração com Koechlin. Esforçando-se sempre para ampliar os seus conhecimentos musicais, vê-se forçado a retornar a Portugal em 1939, por recusar a nacionalidade portuguesa.

Foi convidado a dirigir os serviços de música da Emissora Nacional em 1940, cargo que recusa por lhe ser imposto assinar uma declaração com a seguinte alínea: “repúdio ativo do comunismo e de todas as ideias subversivas”. E é neste sentido que integra o Movimento de Unidade Democrática (MUD) em 1945, ao qual se torna dirigente.
Dentro das atividades propostas, Fernando Lopes Graça funda o Coro do Grupo Dramático Lisbonense e, mais tarde, o Coro da Academia dos Amadores de Música, mais tarde renomeado como Coro Lopes-Graça da Academia dos Amadores da Música, como homenagem. É aqui que compõe Canções Regionais Portuguesas e Canções Heroicas, cantadas pelo Coro por todo o país. Torna-se militante do Partido Comunista Português em 1948.
No entanto, foi altamente reprimido por parte do Estado: na década de cinquenta, viu as orquestras nacionais serem proibidas de tocar os seus temas, os direitos de autor foram-lhe roubados, foi-lhe anulado o diploma de professor de ensino particular e é obrigado a abandonar a Academia dos Amadores de Música, à qual só regressa em 1972. Após a Revolução dos Cravos, em 1974, a sua ficha criminal por motivos políticos na PIDE é revelada, com inúmeras páginas de espionagem diária do seu dia a dia.
É autor de vastas obras literárias com grande inspiração e renome português, nas quais reflete sobre a musicalidade nacional e a música nos seus tempos. No entanto, o seu espólio de obras musicais é assinalável e reflete o marco deixado na composição portuguesa. Destas, cita-se o Requiem pelas Vítimas do Fascismo (1979) e o concerto para violoncelo estreado por Rostropovich. Ainda se destaca as suas inúmeras obras para piano, incluindo as seis sonatas que o distinguem como um marco na história da música pianística portuguesa do século XX.
Eternizando a sua casa (Tomar), escreveu os seguintes versos: “o monumento completa a paisagem; a paisagem é o quadro digno do monumento; e a luz é o elemento transfigurador e glorificador da união quase consubstancial da Natureza com a Arte”. Foi-lhe atribuído o título de Grande-Oficial da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada, a 9 de abril de 1981- e agraciado com a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique, a 2 de fevereiro de 1987.
Recebeu ainda um Doutoramento Honoris Causa pela Universidade de Aveiro em 1988. Veio a falecer a 27 de novembro de 1994, em Parede, Cascais. O seu arquivo musical foi doado, por testamento, à Câmara Municipal de Cascais e pode ser consultado na Casa Verdades de Faria-Museu da Música Portuguesa (Monte Estoril).
A sua vivência deixou um legado musical e é homenageado por muitos locais do país. Em Parede, o seu nome encontra-se numa Escola Secundária e na Universidade de Coimbra, os ensaios do Coro Misto são realizados numa sala que carrega o nome deste maestro célebre. Também em Tomar, a casa onde nasceu o compositor foi transformada na Casa Memória Lopes-Graça para homenagear a sua obra e o seu exemplo cívico.