Rua Bulhão Pato: O poeta incompreendido

É uma das ruas mais movimentadas do Montijo, mas o seu nome representa mais do que um prato gastronómico. A rua homenageia um antigo poeta e memorialista. Damos a conhecer mais sobre uma personagem importante na literatura portuguesa.

Raimundo António de Bulhão Pato nasceu em Bilbau, a 3 de março de 1828. Filho de Francisco de Bulhão Pato, poeta e fidalgo português, e da espanhola María de La Piedad Brandy, viveu a sua infância no País Basco até aos seis anos de idade devido à instabilidade vivida em território português pelas guerras liberais. Durante os primeiros cercos históricos à cidade de Bilbau (1835 e 1836), época governada pela Primeira Guerra Carlista, a sua família decide retornar a Portugal e assim aposentar-se.

Viveu assim a sua juventude em terras portuguesas, estando desde sempre ligado às letras e aos saberes intelectuais. Matriculou-se na Escola Politécnica em 1845, mas não viria a completar o curso ao qual se tinha candidatado. Foi 2º oficial da 1ª repartição da Direção-Geral do Comércio e da Indústria e assim garantiu a sua estabilidade.

Era conhecido por ser um bom apreciador de caçadas, viagens e serões dedicados a literatura, sempre acompanhado dos grandes intelectuais como Alexandre Herculano, Almeida Garret, Andrade Corvo, Latino Coelho, Mendes Leal, Rebelo da Silva e Gomes de Amorim. Desde cedo que colaborara como escritor, deixando a sua marca em tantas obras portuguesas. Monárquico e memorialista, o seu objetivo foi sempre ficar na história como poeta conhecido.

Em 1870, colaborou com outros autores na edição do livro “O cozinheiro dos cozinheiros”, editada por Paul Plantier. Bulhão de Pato procurou unir as duas vertentes preferidas da sua vida: a gastronomia e a poesia. As suas obras enquadravam-se na vaga ultrarromântica, adicionando a essa linguagem coloquial e viva elementos populares e folclóricos.

Foi com o seu poema Paquita , reeditado em 1866 e 1894, que ficara conhecido, trazendo um certo realismo e um tom satírico que procuravam refletir sobre diversas questões sociais.

De forma cronológica, damos a conhecer alguns dos seus trabalhos mais celebrados ainda nos dias de hoje:

De 1850 a 1860:

  • Poesias de Raimundo António de Bulhão Pato, primeiro livro editado em 1850
  • Amor virgem n’uma peccadora, comédia em um ato encenado no Teatro D.Maria II, em 1858

De 1861 a 1870:

  • Versos de Bulhão Pato, em 1862
  • Poema Paquita, em 1866
  • Canções da Tarde, em 1867
  • Flôres agrestes, em 1870

De 1871 a 1880:

  • Paizagens, editado em prosa no ano de 1871
  • Canticos e satyras, em 1873
  • Hamlet, traduções das tragédias de William Shakspeare e traduções de Ruy Blas de Victor Hugo, em 1879

De 1881 a 1890:

  • Mercador de Veneza e SatyrasCanções e Idyllios, em 1881
  • O Grande Maia, em 1888 e Lázaro Cônsul em 1889

A partir de 1891:

  • Livro do Monte, em 1896

O principal debate ao qual se permanece até aos dias de hoje na dúvida faz menção à personagem Tomás de Alencar, poeta ultrarromântico e desfasado do seu tempo, presente na obra de Eça de Queirós – Os Maias (1888). Bulhão Pato acreditava que tal personagem servia para caricaturar o mesmo e esse debate agravou-se com o passar do tempo, enquanto Eça de Queirós afirmava que não se tinha inspirado no poeta.

A sua escrita era incompreendida pela sociedade. O poeta refugiava-se na sátira e na vaga ultrarromântica, sendo considerado um fora de tempo da sua geração. Bulhão Pato veio a falecer no Monte da Caparica, onde tinha a sua casa, a 24 de agosto de 1912.

Artigos relacionados

Back to top button