Rua Tenente Valadim: O militar decapitado pelo patriotismo

É mais conhecida por ser a rua na qual o restaurante Marradas tem a sua casa. No entanto, sabe a quem faz homenagem esta rua? Damos a conhecer no seguinte artigo.

Eduardo António Prieto Valadim nasceu a 13 de julho de 1856, em Lisboa, filho de um oficial naval, Eduardo Augusto Valadim, e da sua mulher Irene Adelaide Prieto. Concluiu os seus estudos no Colégio Militar e, com vista a seguir uma carreira militar, inscreveu-se no Regimento de Caçadores nº2, enquanto matriculado em simultâneo na Escola do Exército.

Concluiu os seus estudos em 1883 e, assim que promovido a alferes, foi destacado para Moçambique a 26 de novembro de 1884. Lá, integrou a guarnição da ilha de Moçambique, na qual teve oportunidade de contactar profissionalmente com o seu pai, chefe do estado-maior da Divisão Naval do Índico também em Moçambique.

No ano seguinte, foi nomeado a ajudante-de-campo do governador Augusto de Castilho, que integrara funções recentemente na guarnição de Moçambique. Participou em diversas campanhas militares, no contexto de Campanhas de Conquista e Pacificação, sob a ordem do governo português e realizadas na sequência da Conferência de Berlim.

Em 1888 adoeceu gravemente, o que fez com que o governador-geral Lourenço Marques ordenasse o seu regresso e evacuação para Lisboa. No entanto, não tardou a recuperar e, assim que se sentiu apto, regressou a Moçambique para continuar as suas funções militares.

Numa das suas viagens para assegurar a presença portuguesa em território moçambicano, nas margens do Lago Niassa, foi surpreendido com um ataque comandado sob as forças de um chefe tribal muçulmano Mataca III. O seu nome era Ce Bwonomali Mkandu e era conhecido pelos ataques que eram feitos às tropas britânicas. Partiu com o seu aspirante Manuel Tomás de Almeida e foi acompanhado de uma tropa composta por 250 carregadores e mais 50 soldados indígenas.

Por onde passava e era bem recebido, a bandeira portuguesa era hasteada como símbolo de presença. No entanto, passados seis dias de marcha e da sua integração nas terras de Mwembe, junto do povo Pegogo, foi-lhe feita uma emboscada. Consoante o que era habitual, procedeu à oferta de paz e combinou a cerimónia do hastear a bandeira portuguesa para o dia seguinte.

Porém, a reação à cerimónia por parte do povo não foi a esperada. Ao hastear a bandeira portuguesa, alguns homens que assistiam tentaram impedi-lo, ao que os militares portugueses se opuseram com firmeza e sofreram, por isso, um ataque que terminou com a decapitação do tenente Valadim. Parte dos soldados, bem como o aspirante Manuel Tomás de Almeida, foram feitos prisioneiros e, posteriormente, foram mortos. Por sua vez, as restantes tropas africanas foram escravizadas.

A notícia só chegou a Portugal meses depois que, assim que anunciado, gerou uma grande indignação por se salientar a morte do Tenente Valadim como injusta, devido a intrigas britânicas com os seus povos. A emoção dos portugueses ficou marcada por atos de patriotismo que levaram à implementação do seu nome em diversas ruas de Portugal, estando presente em 34 localidades. Ainda nos dias de hoje é um dos topónimos mais regulares do país.

Foi reconhecido, com o apoio de Guerra Junqueiro, como Benemérito da Pátria e a sua morte levou à organização de diversas exposições punitivas, na qual resultou a conquista e implementação da Fonte Tenente Valadim onde o martírio de Eduardo António Prieto de Valadim acontecera. Este local serviu, posteriormente, para a criação de uma base aérea de apoio ao exército português durante a Guerra Colonial.

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