Rua Virgínia Rau: Conquistas de uma apaixonada por arqueologia
A rua do Montijo enaltece primeira mulher a dirigir a Faculdade de Letras e um dos maiores nomes da arqueologia portuguesa.

Virgínia de Bivar Robertes Rau, filha de Luís Rau Júnior e Matilde de Bivar de Paula Robertes, nasceu a 4 de dezembro de 1907, em Lisboa. Terminou o liceu em 1927 e rapidamente se matriculou na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. No entanto, no ano seguinte viajou por França e Alemanha, onde ficou a viver e desenvolveu o seu gosto por pesquisa em bibliotecas e arquivos estrangeiros . Só em 1939, devido à Segunda Guerra Mundial, regressou a Lisboa e recomeçou a frequência da secção de Ciências Históricas e Filosóficas da Faculdade de Letras. Foi também neste período que iniciou trabalhos na área da arqueologia.
Manuel Heleno, importante historiador e arqueólogo da época, foi um de seus professores e, através dele conheceu o pré-historiador e arqueólogo francês Henri Breuil e conseguiu obter as suas primeiras experiências práticas de campo. Virgínia Rau acompanhou Breuil nas suas viagens de investigação a locais paleolíticos em Portugal na região de Rio Maior. Os seus estudos na área da arqueologia intensificaram-se, mas a época não era favorável para as mulheres que queriam vingar nesta área e Virgínia acabou por desistir.

Envergou por outro campo e, em 1943, terminou a licenciatura com a média de 16 valores e cinco anos depois já estava doutorada em Ciências Históricas, com média de 18 valores. A sua carreira enquanto professora começou em 1952 e rapidamente foi nomeada Professora Catedrática. O seu interesse por História era fascinante, mas foi sobretudo a sua vontade de adquirir e transmitir conhecimento que a levou a fundar e dirigir o Centro de Estudos Históricos, em 1958.

O espaço anexo à Faculdade de Letras funcionava como impulsionador de projetos históricos a desenvolver pelos estudantes que partilhavam ideias e conhecimento entre si, com a orientação de Virgínia Rau. Sendo uma mulher que ambicionava sempre mais, em 1965, fundou a revista científica Do tempo e da História, que albergava 34 estudos realizados na área da história medieval e moderna em Portugal, apoiados pela Fundação Calouste Gulbenkian e definidos como detentores de elevado rigor historiográfico.
Entre 1964 e 1969 fez aquilo que nenhuma mulher tinha antes feito: assumiu o cargo de diretora da Faculdade de Letras. Nesse período, Virgínia Rau já detinha um elevado prestígio quer dentro da instituição, quer a nível nacional e a sua exigência era bem reconhecida pelos estudantes.
Iria Gonçalves, ex-aluna da professora catedrática, conta como o seu sentido de humor estava fortemente aliado à sua frontalidade, evocando um episódio caricato ocorrido numa sessão do Centro de Estudos Históricos. Um grupo de estudantes decidiu perturbar o início da reunião com cantorias à porta do Centro. Virgínia Rau, muito descontraída e simpática, abriu a porta e atirou “É tão bonita essa canção, mas vocês desafinam tanto!”.

A personalidade assertiva cativou centenas de pessoas e o trabalho desempenhado em Colóquios e Congressos Internacionais permitiram-lhe relacionar-se com os mais prestigiados historiadores do seu tempo. Das várias condecorações que lhe foram atribuídas pode destacar-se a Ordem de Mérito da República Italiana, o grande oficialato da ordem da Instrução Pública portuguesa e o título de doutor Honoris Causa da Universidade de Toulouse.
Virgínia Rau faleceu a 2 de novembro de 1973, com apenas 65 anos, mas deixou imortais as suas investigações de caráter medieval e moderno que lhe garantem uma posição distinta na historiografia portuguesa.